sábado, 19 de março de 2011

PV em crise por causa do poder

Via Luis Nassif

A crise do PV

Verdes se dividem e grupo de Marina ameaça sair do PV
Ex-senadora se irrita com manobra do presidente da sigla, José Luiz Penna, e aliados falam em novo partido
Dirigente adia troca de comando na legenda e isola ala "marineira'; Sirkis reclama de golpe e diz viver "pesadelo"
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Isolado na disputa pelo comando do PV, o grupo da ex-senadora Marina Silva entrou em confronto aberto com o presidente da sigla, José Luiz Penna, e ameaça sair para fundar outro partido.
A crise estourou anteontem, quando Penna, no cargo desde 1999, liderou manobra na Executiva Nacional da legenda para prorrogar seu mandato por mais um ano.
Derrotada, Marina protestou contra o dirigente e autorizou aliados a falar abertamente em deixar a legenda.
"Estamos vivendo um pesadelo verde", disse o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ). "Penna deu um golpe para tentar ser presidente vitalício. Se não conseguirmos mudar isso, o único caminho será fundar outro partido."
Procurados, Penna e aliados mais próximos, como o deputado Sarney Filho (PV-MA), não deram entrevista. Marina também evitou comentar a crise na sigla.
A manobra de Penna pegou a ala "marineira" de surpresa. Sem aviso prévio, Sarney sugeriu adiar para 2012 a convenção que elegeria, até julho, a nova cúpula verde.
A proposta foi aprovada por 29 votos a 16, apesar dos protestos de Marina.
A ex-senadora fez um discurso duro e cobrou uma "transição democrática" no partido, de acordo com relatos ouvidos pela Folha.
Aliados de Penna sustentaram a tese de que ela é "novata" na sigla -à qual se filiou em 2009- e não foi capaz de elevar sua bancada federal, de 14 deputados.
Para Marina, a derrota pode comprometer o plano de construir uma terceira via na sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2014.
"Há um conflito entre os fisiológicos, que parecem ver a Marina como um estorvo, e a ala que quer renovar o partido. Agora a contradição estourou de vez", disse Sirkis.
Apesar do terceiro lugar na campanha de 2010, com 19,6 milhões de votos, a ex-senadora não tem maioria na cúpula do PV.
Ela tenta pôr um "marineiro" no lugar de Penna para afastar aliados incômodos e organizar sua nova candidatura ao Planalto.
Do lado de Marina, estão verdes históricos como o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e o ambientalista pernambucano Sérgio Xavier.
"Não dá para remar contra o tsunami da realidade. Marina é a grande liderança verde do país. Quem ignora isso está olhando para o próprio umbigo", disse o ecologista.
Os grupos de Penna e Marina já se enfrentaram no segundo turno de 2010. Ele queria apoiar José Serra (PSDB), mas foi convencido a endossar a neutralidade.
Por Mário Avila de Jesus
Roldão Arruda, de O Estado de S. Paulo
Após meses de atrito, as relações entre a atual direção do PV e o grupo de Marina Silva caminham para o impasse. Já se fala na possibilidade de Marina deixar o partido. Sairia acompanhada por militantes históricos, como o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) e o jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira (RJ).
O impasse foi explicitado na reunião da executiva nacional do partido, realizada ontem em Brasília. Ignorando os apelos do grupo de Marina e dos históricos para que se promovam eleições neste ano para a renovação dos quadros de direção, a executiva decidiu adiar para 2012 a convenção já programada para meados deste ano. Isso garante ao atual presidente, José Luiz Penna, que detém o controle quase absoluto da máquina partidária, a permanência no cargo por mais um ano. Será o 13.º à frente do PV.
“Tudo indica que estamos caminhando para uma presidência vitalícia, num partido que é parlamentarista”, desabafou ontem Sirkis. “É desalentador, porque 2012 é ano eleitoral e difícilmente a executiva convocará uma convenção.”
Sirkis disse que o grupo de Marina e os históricos ainda irão tentar mobilizar as bases do partido e os grupos que apoiaram a a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. Sua intenção é pressionar a executiva para que a convenção se realize neste ano, como estava previsto desde que Marina se filiou ao PV, no ano passado. “Vamos convocar reuniões realizar seminários onde for possível”, afirmou o deputado. “Não está descartada a hipótese, porém, de Marina e os verdes históricos saírem para criar um novo partido.”
O deputado ficou surpreso com resultado da reunião. Ele acreditava que o partido iria aproveitar o resultado da campanha eleitoral de 2010, quando Marina obteve cerca de 20 milhões de votos e mobilizou setores expressivos do eleitorado mais jovem, para promover a renovação e o arejamento nos seus quadros.
A história tomou outro rumo quando o deputado Zequinha Sarney (MA), apresentou uma proposta para se prorrogar por mais um ano o mandato da atual diretoria, presidida por Penna. Submetida a votação, ela foi aprovado por 29 votos a 16.
Segundo comentário feito ontem por Sirkis em seu blog na internet, a decisão teria sido motivada por “acordos com as clientelas internas que dominam muitos Estados mantendo o partido na sua condição de vergonhosa estagnação, garantias de cargos e também o medo que existe em relação a qualquer mudança mais profunda no pequeno partido que somos”.
Sobre o estado de ânimo de Marina, comentou: “Marina ficou perplexa ainda que não propriamente surpresa. A animosidade da burocracia no partido contra ela era algo que ela vinha reparando há tempos e eu constantemente lhe garantindo que exagerava. Naquela hora percebi que não. Digamos que, na melhor das hipóteses,  criaram por ela uma relação amor-ódio. Amor pelo que de prestígio indireto pode lhes aportar. Ódio quando sua visão de transição democrática é vista como ameaça a seus poderzinhos…”

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