Via site da Maria Frô
(acessem esse site é ótimo)
Um texto
interessantíssimo do sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi
sobre ex-presidentes que insistem em continuar na cena política mesmo não
trazendo nenhuma contribuição importante para o debate.
Por: Marcos Coimbra
08/07/2010
Poderíamos aprender com os americanos
a lidar com os que ocuparam a Presidência da República. Lá eles não incomodam.
Um dos problemas brasileiros
(certamente não o maior) são nossos ex-presidentes. Vira e mexe, um deles causa
algum embaraço. Fala o que não deve, se comporta de maneira inconveniente, dá
maus exemplos.
Poderíamos aprender com os americanos a lidar com eles. Lá, faz tempo que não incomodam. Os contribuintes pagam para que não sejam forçados a lutar pela sobrevivência, lhes dão um gordo estipêndio e provêm a todos de amplas condições para que se dediquem a fazer nada.
Poderíamos aprender com os americanos a lidar com eles. Lá, faz tempo que não incomodam. Os contribuintes pagam para que não sejam forçados a lutar pela sobrevivência, lhes dão um gordo estipêndio e provêm a todos de amplas condições para que se dediquem a fazer nada.
Ficam à frente de suas fundações,
disponíveis para missões humanitárias, participações esporádicas no debate
público e, se tiverem aptidão, enriquecer no circuito internacional de
palestras e consultorias. Os que terminam bem seus mandatos, como Bill Clinton,
continuam a merecer o carinho de todos. Os que não, somem (como o último Bush).
Por aqui, quanta diferença! José
Sarney zelava pela liturgia do cargo até no corte de seus jaquetões. Se tivesse
o mesmo cuidado com verbas públicas e nomeações depois que saiu do Planalto,
ninguém reclamaria dele. Fernando Collor era tão jovem e ficou tão pouco tempo
no cargo que era natural que quisesse disputar outras eleições. O que não
precisava é que fossem tantas, desde projetos bizarros como a prefeitura de São
Paulo, ao de agora, de mais uma tentativa de voltar ao governo de Alagoas.
Nessa vontade de permanecer a todo custo na vida política, Itamar Franco se
parece com ele. Já foi governador de Minas Gerais e, neste ano, pretende ser
senador outra vez, mesmo sabendo que o tempo passa para todos.
Ainda bem que os presidentes-ditadores
tiveram a boa educação de morrer. Dá para imaginar o que seria se tivessem a
longevidade de um Oscar Niemeyer? Contando todos, inclusive os três da Junta
Militar, até seis poderiam estar vivos, dois (Geisel e Figueiredo)
provavelmente. Quantas conspirações e articulações não estariam fazendo!
E Fernando Henrique? O mais recente e
mais ilustre?
Faz tempo, mas FHC já foi considerado
o mais importante cientista social do País. Todos gostavam dele, alguns com a
exuberância de Glauber Rocha, que o chamava de “príncipe da sociologia
brasileira”. E não era só no Brasil que tinha renome. Era respeitado
internacionalmente, autor de livros que marcaram mais de uma geração.
De quem esperar uma atuação notável
como ex-presidente senão daquele que mais se distinguira antes de assumir o
cargo? Com sua biografia, era natural esperar que estabelecesse o padrão para
seus sucessores. Depois dele, todos saberiam o que era ser um ex-presidente da
República.
Semana passada, Fernando Henrique
publicou mais um artigo, como tem feito com frequência nos últimos meses. É sua
maneira de intervir no debate sucessório, pois a campanha Serra vê com
preocupação qualquer movimento seu de maior aproximação. Ela já tem problemas
de sobra com a administração da imagem negativa do ex-presidente e não quer que
o candidato seja ainda mais identificado com ele.
No texto, intitulado “Eleição sem
maquiagem”, FHC rea-liza uma proeza de malabarismo intelectual: consegue ser,
ao mesmo tempo, um sociólogo que abdicou da sociologia e um ex-presidente que
não governou.
Chega a ser fascinante ver como
descreve os graves riscos que confrontam hoje o Brasil, aos quais o governo
Lula estaria respondendo com uma atitude de otimismo irresponsável: “Tudo
grandioso. Fala-se mais do que se faz”. Para ele, “a encenação para a eleição
de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem
penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que
ela diga, especialmente o que o mercado e os parceiros internacionais querem
ouvir”.
O comentário é misógino, pois ele
nunca se referiria a questões de aparência se o PT tivesse um homem como
candidato (por mais vaidoso e preocupado com a aparência que fosse) e não uma
mulher. Seu tom choca quem conheceu o Fernando Henrique sociólogo, sempre
progressista.
Mas o mais extraordinário é ver como
apagou da memória o que foi seu governo e as duas eleições presidenciais que
ganhou. Será que esqueceu de como aconteceu sua primeira vitória, uma avalanche
provocada pelo Real- lançado 90 dias antes, naquela que foi a eleição onde
fatores não políticos mais interferiram no resultado? Será que não lembra como
foi a reeleição, escorada em um câmbio artificialmente mantido pelos “parceiros
internacionais”, que estourou três meses depois da apuração dos votos?
É ótimo que proponha eleições sem
maquiagem. Mas é impossível levá-lo a sério, enquanto não estiver disposto a
enfrentar suas verdades. Como ele mesmo diz: assumir a responsabilidade pelo
que fez e deixou de fazer, mais do que falar.
\o/
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