Por: José Inácio Werneck
Bristol (EUA) - Gostei do que ouvi até agora da administração Dilma Rousseff, sobretudo da entrevista do Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, quanto a investimentos no setor.
Mercadante foi até sóbrio ao prever que o Brasil será o primeiro país tropical desenvolvido, porque deixa claro que, apesar da euforia com que setores governamentais tem descrito nosso progresso nos últimos anos, ainda não atingimos tal condição.
O Brasil é um país subdesenvolvido e precisará de muito investimento na área de educação em geral (que eu prefiro chamar de ensino) e especificamente em ciências, tecnologias de ponta, informática, pesquisas nucleares, energia alternativa.
São setores em que a China e a Índia vem investindo enormemente. A Índia ostenta a vantagem de uma classe média fluente em inglês, por causa da colonização britânica, mas é um país em que centenas de milhões de pessoas vivem ainda em condições de miséria extrema, agravada pelo resquício de um sistema de castas. É uma população jovem mas, embora a Índia já esteja na casa de um bilhão e cem milhões de habitantes, seu crescimento demográfico permanece excessivo, sobretudo nas camadas mais pobres e dependentes.
Na China, que adotou há três décadas a política de um filho por casal, começa a haver, ao contrário, o envelhecimento da população. O governo parece estar numa corrida para arrancar a imensa massa rural da miséria absoluta, antes de liberar outra vez sua política de natalidade.
O Brasil está num meio termo. Poder-se-ia dizer que nosso perfil demográfico é melhor do que o da Índia e o da China, se não começássemos a mostrar sinais de que, mesmo sem uma política oficial de limitação da natalidade, nosso índice de fertilidade começou a cair mais do que o previsto. Se nada for feito a respeito, dentro de 20 anos o Brasil começará a perder população, como já acontece em países europeus, aí incluída a Rússia.
Não é uma boa coisa, é claro, pois resulta numa população que entra no mercado de trabalho em número insuficiente para manter solvente o sistema de pagamento de aposentadorias e benefícios dos que se retiram.
Gostei de ver o ministro Mercadante aludir à necessidade de repatriar os imigrantes brasileiros que adquiriram novas aptidões em consequência de sua vivência no exterior (observação: não estou me candidatando a ser repatriado). Há um grande número deles nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
A respeito deste último, sugiro a meus leitores que busquem na Internet a reportagem do New York Times, nos últimos dias, sobre niseis e sanseis nascidos no Brasil, como Akira Saito, que foram para o Japão mas agora se mostram dispostos a voltar para casa, pois a economia japonesa está estagnada. Como Saito, que trabalha na Toyota, há muitos, que dizem: “Vim aqui em busca de uma oportunidade, mas agora sinto que as oportunidades estão no Brasil”.
Se o governo de Dilma Rousseff acertar a mão, estarão mesmo. E haverá um mercado de trabalho para que esses brasileiros retornem com suas novas aptidões e para que imigrantes qualificados de outros países também venham colaborar com o nosso crescimento.
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