GUEST POST: A INFÂNCIA ABANDONADA
Sou nordestina do interior de Pernambuco, somos em três irmãos. Quando eu tinha 10 anos de idade minha mãe de


Dias depois de ter chegado em SP, meu tio aproveitou uma saída da mulher e me pegou na cozinha. Entrei em desespero, mas ele me disse que eu era muito bonita e que se eu me comportasse enão contasse nada pra mulher dele eu ia me dar muito bem, mas se eu contasse alguma coisa ele ia ter que me expulsar da casa dele, e eu estava muito longe da minha cidade e não conhecia ninguém ali, então o que eu


Vivi isso por muito tempo até que eles me mandaram de volta pra minha cidade e lá passei por outras situações de estupro por homens da minha família e sempre me achei culpada por aquilo, sempre fui forçada a me calar e vivia com medo das pessoas. Cresci e aos 15 anos fui viver com um homem bem mais velho que deu sequência a esse horror. Tive dois filhos com ele e um dia criei coragem e o abandonei. Hoje tenho 35 anos, so

Obrigada por permitir que eu dividisse com você um pouco da minha vida.
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COMENTÁRIO DA LOLA
Eu aqui. Fico chocada com uma história dessas, que só reforça o quanto sou privilegi
ada por ter tido casa, comida, e carinho de pessoas que me amavam. É terrível imaginar uma criança de dez anos passar por isso. Bom, seria terrível pra qualquer idade, mas a gente vive num país em que menores de idade são protegidos pela Constituição. Como que uma criança pode passar por tudo isso, totalmente abandonada pelo Estado, como se estivesse naqueles orfanatos ingleses do século 19? Espero que essa situação, ocorrida duas décadas atrás, não seja mais tão corriqueira. Sabemos que a Bolsa Família e o desenvolvimento do Nordeste (grandes conquistas do governo Lula) acabaram com esse trabalho escravo de meninas serem dadas ou vendidas para trabalhar como empregadas, sujeitas a todo tipo de abuso dos patrões.
No campo individual, é detestável notar que ninguém ajudou essa menina. Pelo contrário, todos se aproveitaram dela e perpetuaram o abuso. Quando li o relato pela primeira vez, na parte em que a leitora conta que seu
primo descobriu o que o pai dele fazia com ela, eu respirei aliviada. Automaticamente pensei, condicionada por toda uma infância de contos de fada e príncipes encantados, que o primo a salvaria. Que a levaria pra longe de lá, que denunciaria o pai. Nunca, jamais, que ele acharia que também tinha direito de cobrar a sua parte.
Aí a gente vê mais uma vez que príncipe encantado não existe. Mastemos o direito de exigir um Estado, se não encantado, pelo menos presente para proteger nossas meninas de gente muito, muito ruim.
Eu aqui. Fico chocada com uma história dessas, que só reforça o quanto sou privilegi

No campo individual, é detestável notar que ninguém ajudou essa menina. Pelo contrário, todos se aproveitaram dela e perpetuaram o abuso. Quando li o relato pela primeira vez, na parte em que a leitora conta que seu

Aí a gente vê mais uma vez que príncipe encantado não existe. Mastemos o direito de exigir um Estado, se não encantado, pelo menos presente para proteger nossas meninas de gente muito, muito ruim.
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