sábado, 22 de janeiro de 2011

Bolsa família e o poder das mulheres

Por Lola Aronovich, em seu blog

UM EFEITO COLATERAL DO BOLSA FAMÍLIA

A inigualável Marilena Chauí revela em entrevista a Caros Amigos de dezembro mais um bom motivo pra gente gostar do Bolsa Família (e pros reaças morrerem de ódio) – o programa empodera as mulheres! Nas palavras dela:

“Eu tenho uma colega, socióloga, que viajou pelo Brasil inteiro fazendo a pesquisa em torno do bolsa família. O bolsa família produz uma desestruturação da família, porque ele produziu a perda de lugar masculino e a presença forte e determinante da figura feminina. Issomudou as relações de poder no interior da família, isso mudou o lugar da mulher nas pequenas comunidades e pequenas sociedades. E isso produziu o seguinte efeito: todas as mulheres do bolsa família foram capazes de usar o recurso, de tal maneira que sempre houve uma sobra, e todas elas se reuniam, e foi aí que as cooperativas foram importantes, elas formaram cooperativas, com estas sobras elas investiram, foram fazer artesanato, foram fazer costura. Há mil e uma atividades que as mulheres estão fazendo no Brasil inteirinho e isso mudou a relação com os filhos porque, para fazer isso, elas compreenderam com clareza o significado do FUNDEB [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] e a ida da criança para a escola. E o FUNDEB, através do PRONAF [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], criou o sistema nacional de merenda. A comunidade produz a merenda e a criança come, essa despesa, a mãe não tem. É uma revolução”. 

Esse é um lado do Bolsa Família que a gente não vê, mas que certamente existe. O benefício é pago para a mulher; é ela que controla o orçamento da família, e quase sempre pensa nos filhos em primeiro lugar (é mais ou menos por esse motivo que as seguradoras de automóvel cobram um seguro mais barato de mulheres com filhos – elas cometem menos acidentes porque são super cuidadosas). Eu lembro bem quando, em 2003, muita gente criticou que o cartão do então Fome Zero seria entregue preferencialmente às mulheres da família. Quem criticava, lógico, era o pessoalzinho sem nenhum pé na realidade que pensa que homens e mulheres (notem a ordem “natural” das palavras) vivem em plena igualdade. Ou seja, num sistema de igualdade, perfeito, utópico, qualquer desestruturação é ruim. Em time que tá ganhando não se mexe, certo? No entanto, num sistema desigual, uma desestruturação da família é algo muito positivo. Combate-se o machismo dando maior poder às mulheres. Toda melhora da qualidade de vida da população passa pela melhora de vida da mulher, sem exceção. Quando se aumenta a renda das mulheres, automaticamente melhora a vida das crianças. Essa é uma das razões peloa quais o feminismo, que luta para a igualdade dos gêneros, é benéfico pra todo mundo. 
Mas, apesar de todos os avanços causados pelo Bolsa Família, apesar do programa ser copiado em Nova York e em muitos outros lugares, ainda tem gente que vem com o discursinho ultrapassado de que ele “dá o peixe e não ensina a pescar”. Deve ser o mesmo pessoal que reclama que tá cada vez mais difícil arranjar empregada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário