quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O machismo dos sem graça do ex-casseta

Por Eduardo Guimarães, em seu blog

Casseta cai por ser machista e sem graça



Enquanto a patrulha politicamente correta perde tempo com blogs, o moribundo programa “humorístico” global “Casseta & Planeta” veiculou, na última terça-feira, um dos maiores incentivos ao machismo que já vi em um meio de comunicação de massas. E o que é pior, no maior meio do país e no horário de maior audiência.
No programa em questão, os doublés de humorista Hubert e Cláudio Manoel interpretam, respectivamente, o presidente Lula e Dilma Rousseff. O diálogo sem graça, politiqueiro e desrespeitoso com a condição feminina explica à perfeição porque a tradicional atração da Globo vem perdendo audiência ano após ano, sobretudo depois da morte de Bussunda.
Como se sabe, Após 18 anos no ar o humorístico “Casseta & Planeta urgente” terá sua última edição neste mês de dezembro, segundo anúncio da Central Globo de Comunicação feito no dia 26 do mês passado.
Os comediantes terão férias compulsórias após o fim de dezembro. Apesar de os defenestrados por falta de público dizerem que haverá um novo projeto de humorístico que entraria no ar a partir do segundo semestre de 2011, o próprio grupo reconhece que não há uma idéia de como será o novo programa. “Se a gente tivesse uma [idéia] não precisaríamos sair dessa forma”, disse Hélio de la Peña em entrevista ao G1.
Pouco adiantou o histriônico Marcelo Madureira, o mais politizado dos cassetas, ir bajular a imprensa golpista lá no instituto Millenium. Televisão é audiência e os Marinho não gastam vela com mau defunto, nessas questões, por mais que seus artistas achem que o caminho para um programa humorístico é o de debochar dos adversários políticos do patrão.
Os cassetas terão que apresentar à Globo uma idéia que funcione, se quiserem voltar ao ar. E, lamentavelmente, eles se perderam, pois a perda de audiência se deve ao quadro que este post descreve a seguir e que passou batido por essa turma que anda se arvorando em porta voz do feminismo verde-amarelo, pois ficam preocupados em patrulhar o micro enquanto o macro debocha da capacidade da mulher de liderar.
Reproduzo, abaixo, o diálogo da edição do Casseta& Planeta de 21 de dezembro último. Tal diálogo se dá entre o presidente Lula e Dilma Rousseff, que assim aparecem caracterizados na transcrição.
“Lula” (Hubert) – Ah, Dilmandona, parabéns pela sua vitória nessa tal de eleição, entendeu, mas eu vou logo avisando, hein: não quero trairagem comigo, não. Quem vai mandar, sou eu… He, he, he…
“Dilma” (Cláudio Manoel) com voz rouca igual à de “Lula – Pode ficar tranqüilo, eu vou ser bem obediente e boazinha.
“Lula” – Eu sei, mas você vai ter que seguir o meu regime…
“Dilma” – É claro, chefinho, eu vou fazer tudo igualzinho, vou nomear até os mesmos ministros.
“Lula” – Não, não é nada disso que eu to falando, não. Tu vai ter que seguir o meu regime alimentar. Ó só: tu vai comer ovo, repolho, batata-doce e feijão. Todo dia… He, he, he…
“Dilma” – Mas chefinho, se eu comer isso todo dia vai dar muito pum.
“Lula”, segurando os ombros de “Dilma” e conduzindo-a à “cadeira presidencial” – Eu sei, mas eu quero que você esquente a cadeira pra mim. Assim, quando eu voltar, vai estar bem quentinha… He, he, he…
Muito engraçado, não? Perdoem-me se não morro de rir de humor tão “inteligente”. Meia dúzia de chavões do colunismo golpista para um público que, em quase unanimidade, idolatra o presidente e que, segundo pesquisas de opinião recentes, crê que sua sucessora fará um governo igual ou melhor que o dele.
Dilma é apresentada como um marionete, sendo conduzida por Lula pelos ombros e prometendo ser “boazinha e obediente”. Piada sem graça que estimula essa visão tão tragicamente disseminada de absoluto desprezo pela capacidade da mulher de liderar, de ser protagonista em vez de coadjuvante.
Isso é o que acontece quando humoristas e patrulheiros perdem o foco. O primeiro ventinho mais forte os leva embora. Todavia, sendo construtivo, julgo que os cassetas são um caso perdido, mas essas pessoas que levantam bandeiras e que perderam o foco, ainda podem refletir e tratar de combater o que interessa.

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