Dilma pulveriza negociação política
Governo: Palocci, Carvalho, Cardozo e Padilha partilham função
Caio Junqueira e Paulo de Tarso Lyra | De Brasília
A definição do núcleo palaciano da presidente eleita, Dilma Rousseff, aponta para a pulverização da negociação política. A aposta é tanto de amenizar o traquejo ainda não testado de Dilma no exercício de um cargo majoritário quanto de evitar a criação de um superministro, como foi José Dirceu nos dois primeiros anos da era Luiz Inácio Lula da Silva.
Empossado em 1º de janeiro de 2003 como chefe da Casa Civil, Dirceu acumulou funções como a coordenação política e administrativa do início do governo. Articulava os rumos do país com governadores e presidentes da Câmara e do Senado. Tinha ainda a função de segurar o PT, com a autoridade de quem chefiara o partido durante anos, e negociar no varejo com os outros partidos da base e da oposição.
No transição para Dilma esse modelo de Casa Civil ruiu. A opção foi pela fragmentação do poder político e constituição de um núcleo de notáveis com funções não-confrontantes entre si.
Dois dos nomes anunciados na última sexta-feira, Palocci na Casa Civil e Gilberto Carvalho na Secretaria Geral da Presidência, reforçaram esse rumo. Palocci herda a principal cadeira do Palácio, mas desidratada com a transferência do PAC para o Ministério do Planejamento e da gestão do governo e tendo como função específica as altas negociações políticas da República, passando por um diálogo com o setor empresarial brasileiro. Será a ponte de Dilma com lideranças da oposição e com os comandantes do Congresso.
Carvalho assume com a missão de ser a voz de Lula no Palácio e também dialogar com movimentos sociais e religiosos, o que já fez, ao lado do atual ocupante do cargo, Luiz Dulci, nos oito anos do atual governo. A exemplo de Miriam Belchior, Gilberto Carvalho também faz parte da chamada “turma do ABC”, o grupo político mais próximo do presidente Lula. Além de um bom trânsito com os movimentos sociais, o novo secretário-geral é ainda mais próximo da Igreja, setor que se afastou um pouco de Dilma pela polêmica sobre o aborto.
O terceiro nome anunciado sexta – José Eduardo Cardozo (PT-SP) – não deve integrar o núcleo duro do poder político, mas terá o papel de levar adiante o diálogo com governadores por melhorias na segurança pública do país. Em conversa com o Valor, o futuro ministro anunciou que nas primeiras semanas do governo convidará governadores e secretários de segurança de todo país para lançar um pacto nacional pela segurança.
Parlamentar de dois mandatos, Cardozo acha que a atuação da Segurança Pública no Rio (UPP e territórios da paz) pode ser um modelo para o país. “Sabemos que, pelo modelo constitucional, a segurança pública é uma atribuição dos Estados. Mas a União não pode se omitir dessa discussão”.
Do ponto de vista político, Cardozo tende a ser um elo de sua corrente interna do PT, a Mensagem ao Partido, minoritária, com a Construindo um Novo Brasil, majoritária e da qual fazem parte a maioria dos integrantes da legenda que estão no governo. Será o segundo ministro que a Mensagem emplaca na Justiça.
Além desses, comporão o centro do poder de Dilma o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que será responsável pelas intermediações dos interesses no varejo com os partidos da base no Congresso; o vice-presidente Michel Temer, com o objetivo de conter o apetite e as insatisfações do PMDB que preside desde 2001; Paulo Bernardo, que deve ir para a Comunicações, mas sempre como um homem de confiança da presidente eleita.
Guido Mantega completa esse núcleo. Existem dúvidas se ele terá o mesmo papel que Palocci no mesmo Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005. O futuro ministro da Casa Civil foi, além de fiador do tripé macroeconômico herdado do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – ele é o mentor intelectual da “Carta ao Povo Brasileiro” – um elo com o setor produtivo e financeiro nacional, àquela altura ainda assustado com eventuais guinadas no recém empossado governo petista.
Mantega é uma escolha pessoal do presidente Lula e, como titular da área econômica, também participará do núcleo decisório do governo Dilma.
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