sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cadê o sinal!?

Do Blog Brasil, Brasil!

Mídia, sonhos e pesadelos

Washington Araújo, Observatório da Imprensa

"Acordei há menos de uma hora, liguei a tevê. Sintonizei na Globo, mas cadê o sinal? Mudei para a Band, a mesma coisa: cadê o sinal? Na Record encontrei um pastor com seu jeito inconfundível de me dizer verdades absolutas e de encarar desafiadoramente a câmara. No SBT encontrei um desenho animado reprisado pela quadragésima sétima vez apenas neste ano 2010. A TV Brasil, sempre com seus cenários com cara de encardidos (ainda se usa tal adjetivo?), vejo um sossegado apresentador resvalando a discorrer a epopéia de Lampião e Maria Bonita, Jararaca e Jesuíno Brilhante, fatos passados nos primeiros decênios do século passado. Retorno à Globo, agora sim, vejo Tia Nastácia aconselhando Narizinho e ao fundo a voz de Gilberto Gil. Não tenho dúvida: é a reprise de O Sítio do Pica-pau Amarelo.

Desisto de ver tevê, bom mesmo é saber notícias fresquinhas no rádio. Sintonizo a CBN e escuto um locutor meio desantenado apresentando "Este Dia na História". Aprendo na CBN que o compositor e regente italiano Carlo Pedrotti nasceu em 12 de novembro de 1817. Mal humorado desisto da CBN e vou para a Antena 1 em busca de algum sucesso internacional. Toca o antológico Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu.

Dia ruim

Devo estar sonhando ou, pior, fui vítima de pedra na cabeça durante a noite. Não me entendo com as fontes de notícias. Não capto nada. Nem mesmo encontro no rádio o programa Love Hits. De repente lembro de descer dois lances de escada: meus quatro jornais já devem estar jogados nalgum canto do jardim.

O Globo abre sua capa com letras enormes dessas que conhecíamos como garrafais e estampa: "Governo começa a asfaltar a Transamazônica". Deixo de lado porque é o tipo de assunto que absolutamente não me interessa. Retiro um pouco de grama da capa deO Estado de S.Paulo. A foto que toma metade da capa é de uma família sergipana, todos sorrindo. A manchete que quase não cabe na página enuncia: "Salário mínimo gordo – R$ 600,00". Penso comigo: "Mas não diziam que cada R$ 1 adicionado ao mínimo significava milhões no rombo da Previdência? Como aumentaram quase cem reais? Tem algo errado aí."

Procuro a Folha de S.Paulo. As colunas laterais estão vazias, em branco, sem nada escrito. Todas as notícias são da editoria internacional. E tome Katmandu, La Paz, Chicago Bulls e Berlusconi em duas pequenas notas, aparentemente distintas uma da outra.

Ligo o computador e vejo que a velocidade da transmissão de dados e bits piorou significativamente. Ainda assim consigo entrar no espaço virtual da famosa blogueira cubana Yoane Sanchez editora do Generacion Y. Recebo dela esta mensagem, que tomei a liberdade de traduzir ao idioma pátrio:

"Notícias do Brasil dão conta que o Observatório da Imprensa foi fechado e também as dependências do Instituto Millenium foram lacradas, com dois policiais guardando sua entrada... 27 cartunistas estão presos em Bangu IV... representantes de um Conselho de Comunicação Social passaram a dar expediente das 16 às 22 horas nas redações de Veja, Época, CartaCapital e IstoÉ... As transmissões dos telejornais da noite estão com atrasos superior a 90 minutos devido ao trabalho espinhoso desenvolvido pelos tais censores... por último acabo de saber através de Buenos Aires que três donos de jornais encontram-se retidos na embaixada norte-americana..."

É, o dia começou mal. Nada de interessante para ver, ouvir, ler. Tenho que fazer companhia a mim mesmo. Talvez seja o momento de ler de uma vez por todas A Montanha Mágica de Thomas Mann. Quem sabe, ao fim do dia não terei desbastado umas 270 páginas?”
Artigo Completo, ::Aqui::
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