sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EMPREGO CADA VEZ MAIS EM ALTA

Via blog do Favre

25/02/2011 -Pesquisas mostram mercado de trabalho ainda aquecido

Conjuntura: Criação de vagas formais foi a segunda mais alta para o mês de janeiro na série do Caged

João Villaverde e Luciana Otoni | VALOR

De São Paulo e Brasília
As duas principais pesquisas de emprego do país, divulgadas ontem, apontaram que o início de 2011 pode ser um momento de ampliação do mercado de trabalho, apesar das medidas recentemente adotadas para conter o ritmo de crescimento do país. As pesquisas trouxeram resultados acima do esperado pelos analistas.
Enquanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou saldo líquido de 152 mil vagas – 16% inferior ao forte janeiro de 2010, mas ainda assim o segundo melhor mês de janeiro da série histórica -, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou alta de 0,8 ponto percentual na taxa de desemprego, movimento sazonal para o período. Mesmo com o aumento, ela ficou em 6,1%, patamar historicamente baixo.
Os principais contratantes de mão de obra em janeiro foram as empresas de serviços, segundo os dados do Caged. Elas responderam por 48,1% das vagas criadas no mês, uma participação superior aos 31,8% de 2010, indicando um mercado aquecido e que tem aberto espaço para aumento de preços. Dentro do setor, o maior empregador foi o segmento prestador de serviços comerciais e de administração de imóveis, como corretores, com saldo de 36,1 mil vagas, refletindo o aquecimento imobiliário do país. A indústria criou 53 mil empregos em janeiro deste ano, representando 35% das novas vagas, um pouco abaixo dos 38% de participação alcançados em igual mês de 2011.
Para os economistas consultados pelo Valor, a menor demanda por vagas na indústria, comércio e construção sinaliza que a atividade econômica está desacelerando – mas ainda corre em ritmo bom. Dentre os segmentos industriais, por exemplo, apenas um registrou saldo negativo em janeiro – as fábricas de alimentos processados, com fechamento de 983 vagas. Já o segmento que produz materiais elétricos e de comunicações, com saldo positivo de 5,1 mil postos de trabalho, registrou o melhor resultado para meses de janeiro da série histórica, iniciada em 1999.
A parcela dos trabalhadores ocupados na indústria nas regiões metropolitanas, no entanto, permaneceu constante na comparação entre os meses de janeiro de 2010 e 2011. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o equivalente a 16,4% do total de ocupados no mês passado está nas indústrias de transformação e extrativa, mesma parcela verificada em janeiro de 2010.
O comércio, que sazonalmente dispensa os trabalhadores temporários em janeiro, após as festas de fim de ano, dobrou o tamanho do corte na pesquisa do Caged. Passou do corte líquido de 6,2 mil comerciários em janeiro do ano passado para 18,1 mil demissões em igual mês deste ano. Da mesma forma, o setor de construção civil diminuiu quase pela metade o saldo de vagas formais geradas – de 54,3 mil, em janeiro de 2010, para 33 mil no mês passado.
A tendência para o primeiro semestre de 2011 é que os resultados mensais das contratações sejam inferiores aos apresentados nos primeiros seis meses do ano passado, cujos números foram recordes. Além de uma base elevada de comparação que configura 2010, medidas adotadas pelo governo para controlar a inflação e frear o ritmo de expansão da economia tendem a reduzir o ritmo das admissões.
No Ministério do Trabalho, a avaliação é que o mercado formal de empregos continuará aquecido, embora possa passar por ajustes sazonais. A indicação é que o setor serviços e a construção civil liderarão a oferta de vagas nos próximos meses, seguidos por maior demanda nas empresas do agronegócio diante da perspectiva de safra agrícola recorde. Para o ministério, a indústria da transformação recontratou os demitidos de 2009, ampliou as equipes em 2010 e tende a demandar menos empregados este ano. Em meio a essas adaptações setoriais e ao ajuste macroeconômico para desacelerar o Produto Interno Bruto (PIB), o ministro Carlos Lupi acredita que o ano possa registrar 3 milhões de contratações líquidas.
O especialista em políticas públicas, Marcelo Neri, não considera essa meta factível. Ele avalia que o mercado formal de emprego passará por ajustes e ainda não está claro que o crescimento este ano possa resultar em 2,2 milhões de contratações, repetindo 2010 (na série antiga do Caged). Para Fabio Romão, especialista da LCA Consultores, o saldo deve ficar em 1,8 milhão de vagas, uma vez que setores dinâmicos, como construção civil, já esbarram na falta de mão de obra qualificada.
Segundo Fabio Ramos, analista da Quest Investimentos, a situação é mais perigosa para a indústria. “As condições ruins, como o câmbio valorizado e os mercados externos fechados, continuam. E os pontos positivos de 2010, como os incentivos fiscais e os salários subindo aceleradamente, já não estão no radar”, diz Ramos, que estima um saldo pouco inferior a 1,9 milhão de vagas formais no ano.
Além de uma possível acomodação no ritmo de oferta de vagas, Marcelo Neri observa que a regra de reajuste do salário mínimo – a ser corrigido anualmente até 2014 pela variação da inflação do ano anterior e pela variação do PIB dos dois últimos anos anteriores ao reajuste – pode reduzir a oferta de oportunidades com carteira assinada, ao tornar a mão de obra mais cara ao empresariado.
A divulgação dos números do Caged, ontem, confundiu os especialistas. Em nota, na semana passada, o Ministério do Trabalho apontou que “a partir de janeiro de 2011, serão disponibilizadas mensalmente as informações relativas aos vínculos empregatícios declarados fora do prazo legal”. Os analistas entenderam que seriam corrigidos os dados do próprio mês, mas o ministério, na divulgação de janeiro, corrigiu os dados de dezembro e assim fará a partir dos próximos meses.

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