segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Pesquisadora aponta diferenças entre os cérebros masculino e feminino, mas afirma que dinamismo do sistema nervoso garante aptidão dos dois para qualquer atividade intelectual

Via blog do Favre

”Não há profissões só para homens ou só para mulheres”

Pesquisadora aponta diferenças entre os cérebros masculino e feminino, mas afirma que dinamismo do sistema nervoso garante aptidão dos dois para qualquer atividade intelectual
Marcio Fernandes/AEMarcio Fernandes/AE
Experiência. A italiana Marina Bentivoglio, uma das mais renomadas neurocientistas: ‘Mesmo na velhice nosso cérebro continua disposto a aprender’

Alexandre Gonçalves – O Estado de S.Paulo

Homens e mulheres utilizam estratégias distintas para resolver os mesmos problemas, um reflexo das particularidades dos cérebros masculino e feminino. Mas, para a médica italiana Marina Bentivoglio, as diferenças não privilegiam nenhum dos sexos e apontam para uma verdadeira complementaridade. Professora da Universidade de Verona, Marina é uma das mais importantes neurocientistas em atividade.
Na semana passada, ela veio ao Brasil para a 5.ª Escola Latino-Americana de Epilepsia, em Guarulhos. O evento, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), reuniu jovens médicos de diversos países latino-americanos e especialistas em neurociência e epilepsia de renome internacional. O encontro termina na terça-feira.
Quais as principais diferenças entre os cérebros feminino e masculino?
Há diferenças fisiológicas: a sensibilidade a determinados neurotransmissores, a distribuição de receptores, particularidades estruturais, o volume de sinapses… Mas o significado prático dessas diferenças ainda é motivo de controvérsia. Alguns fatos são evidentes. Na mulher, o cérebro prioriza funções relacionadas à maternidade e ao cuidado dos filhos, necessárias para a conservação da espécie. Mas, do ponto de vista da organização social, as diferenças nos cérebros de homens e mulheres são comparáveis às particularidades encontradas entre cérebros de pessoas do mesmo sexo. O cérebro feminino, por exemplo, é muito verbal, apto para a comunicação. Mas há homens que se comunicam bem e mulheres que não se comunicam tão bem. Natureza e sociedade exercem cada uma a sua influência.
Podemos diferenciar o que é construção social ou biologia na mente?
Não. É difícil diferenciar, pois o cérebro é dinâmico. A organização dos circuitos cerebrais influencia a experiência e a experiência modifica esses circuitos. Há um contínuo interagir entre natureza e educação, entre nossos circuitos cerebrais e a experiência concreta. Mesmo na velhice, nosso cérebro continua plástico, disposto a aprender, a se adaptar.
A monogamia, por exemplo, fundamenta-se na biologia ou na cultura?
Essa questão envolve também cultura, antropologia, sociologia… E eu não sou especialista nestas áreas. De qualquer forma, nós sabemos, por estudos com outros mamíferos, que o cérebro de um animal monógamo é diferente do cérebro de um promíscuo: há diferença na concentração e distribuição de determinadas substâncias. No caso dos humanos, convém lembrar dois dados. Nem todas as culturas humanas são monógamas: há culturas polígamas. Mas a monogamia tem sido privilegiada na nossa história evolutiva e na organização social. Mesmo assim, permanece aberta a questão: foi o cérebro que influenciou essa preferência ou foi essa preferência que influenciou a organização do cérebro? Sinceramente, não sei resposta. É provável que a regra da monogamia seja ditada pela experiência e a experiência molde o cérebro.
O cérebro feminino lida melhor com a linguagem e o masculino tem mais aptidão para processamento espacial. Mito ou realidade?
É o que aponta boa parte da literatura científica. Tais particularidades estão relacionadas ao processo de lateralização do cérebro (quando determinadas funções passam a ser controladas em larga medida por um dos hemisférios cerebrais – direito ou esquerdo). A lateralização aumenta a especialização para determinadas atividades. Acredita-se que o cérebro do homem é mais lateralizado. Mas, se é verdade que o cérebro da mulher é menos lateralizado, isso não significa que seja menos perfeito. Significa somente que é mais plástico. Provavelmente, na sua história evolutiva, as mulheres precisaram enfrentar e controlar um rol maior de situações no ambiente: coleta de alimentos, controle da prole… Um cérebro menos lateralizado – e, portanto, menos especializado – estaria pronto para um número maior de cenários.
E na resolução de problemas concretos? Há alguma diferença?
A opinião mais difundida é que em várias situações homens e mulheres utilizam estratégias diferentes para resolver problemas, embora essa não seja uma questão fechada. Poderíamos citar, como exemplo que confirma essa tese, as diferentes estratégias de aprendizado. Uma das coisas mais importantes para a nossa existência é o que conhecemos como mecanismo de recompensa: o prazer que o cérebro oferece quando realizamos atividades importantes para a manutenção da vida. E não tenho dúvidas de que esse mecanismo é diferente em homens e mulheres: ter um filho, por exemplo, oferece uma satisfação diferente para cada um. Mais uma vez, é difícil precisar qual é essa diferença – em parte cultural, em parte biológica. Mas a recompensa, por exemplo, que um menino e uma menina sentem por se comportarem bem é diferente. Do ponto de vista biológico, há diferença na distribuição dos receptores, na probabilidade de sinapses e em vários outros parâmetros do mecanismo de recompensa… Pequenas diferenças, mas importantes. E se a recompensa é diferente, as motivações e o desempenho também serão diferentes.
Há trabalhos em que as mulheres se sairiam necessariamente melhor do que os homens ou vice-versa?
Acredito que não. Naturalmente, nos trabalhos em que massa muscular é importante, os homens podem ter um desempenho melhor. Mas, do ponto de vista do cérebro, não creio que existam trabalhos mais adequados para homens ou mulheres. Convém lembrar que há uma grande variabilidade entre os indivíduos concretos. Nós somos 7 bilhões de pessoas no mundo. Não convém recorrer a categorias binárias. Você vai encontrar pessoas – homens e mulheres – com talento para algumas coisas e sem aptidão para outras. Mas não acredito que seja justificável uma separação dos trabalhos por gênero. Para qualquer um é uma questão de treino, de estímulo… Devemos procurar todos os dias novos estímulos: descobrir novos caminhos para voltar para casa, ler livros diferentes dos que estamos acostumados. Vale o princípio: use (o cérebro) para não perdê-lo. Sem dúvida, alguns contextos sociais podem fazer com que a mulher não se sinta estimulada a encarar desafios, diminuindo o seu desempenho intelectual. Mas isso também pode acontecer com homens. Não acredito que seja bom proteger esse ou aquele gênero. Sou mulher, mas gosto de trabalhar com homens. Por quê? Aprecio a diferença. É mais estimulante. Tenho homens e mulheres no meu laboratório. Acharia ruim se só houvesse mulheres. Quero diferentes abordagens para resolver os problemas. A natureza criou dois sexos e tenho certeza de que há uma ótima razão para isso.
Como o cérebro se adapta às mudanças no ambiente?
Mudar estruturas no cérebro leva milhões de anos. Por isso, as mudanças mais comuns são marginais: regulação de sinapses, interações entre neurônios e células não neuronais, etc… Ou seja, o hardware já está lá. Mas há algo como um software de modulação que atua de forma quase imediata para realizar a adaptação. Às vezes, em poucos minutos. Sua atuação depende do ambiente físico e cultural onde a pessoa está inserida. Por exemplo, uma mulher na savana e outra no norte da Europa têm diferentes prioridades e o cérebro se adapta a essas distintas prioridades. O hardware para os dois sexos é muito parecido. Mas alguns ajustes finos do software dependem das prioridades de cada indivíduo e tais prioridades dependem do gênero e do contexto social. Convém lembrar que os neurônios sempre atuam em conjunto. Nunca isolados. Se o estado de um neurônio muda, centenas ou milhares também mudam ao seu redor. Realmente funciona como um arranjo social. Essa modulação no estado dos neurônios ocorre a todo momento. Isso é, afinal, a essência da vida. O cérebro não é estático. Como a vida, ele se reorganiza sempre.
No mundo contemporâneo, o cérebro é submetido diariamente a uma avalanche de informações. O que você acha desse cenário?
Eu adoro. O problema não é a avalanche de informações, mas a seleção do mais importante. Realmente não sei se os jovens, hoje, conseguem diferenciar o lixo dos conhecimentos relevantes. O cérebro continua capaz de processar um volume imenso de informações. Mas precisamos decidir quais informações convêm processar. O pensamento crítico é mais importante do que nunca. Todo conteúdo que aprendi na escola está na internet misturado a muitas outras coisas. Você digita uma palavra no Google e aparecem milhões de bytes de informação. Como filtrá-la? Sou uma entusiasta do progresso. Mas ele traz consigo novos desafios.
Você também estuda o sono. Como a ciência vê o sono hoje?
No início da neurociência, os pesquisadores acreditavam que nosso cérebro permaneceria passivo durante o sono. Não é verdade. Ele trabalha muito. Cessa a comunicação com o ambiente externo, mas o ambiente interno continua ativo. É o momento em que se filtra e armazena o que aprendemos durante o dia. A expressão dos genes muda significativamente – cerca de 10% – durante o sono. E os genes mais utilizados no sono são justamente os relacionados à memória, ao aprendizado.

Aprende-se com a Mãe

DO CONVERSA AFIADA

Lula em vídeo argentino: mãe protege o mais fraco. Ele também



O rico não precisa de Estado


Conversa Afiada recomenda assistir a um documentário – muito bem feito – sobre Lula.

O documentário da TV Pública argentina sobre Lula está em http://www.youtube.com/watch?v=SnpIuZ5ISlo : “El ciclo ‘Presidentes de Latinoamérica debutó en la Televisión Pública de Argentina (http://www.tvpublica.com.ar/tvpublica/) de la mano de Luiz Inacio “Lula” Da Silva, primer mandatario de la República Federativa del Brasil.”

É um longo depoimento do Nunca Dantes sobre ele mesmo e seu Governo.

Diz ele: o melhor exemplo de governança você não aprende em livro nenhum.

Aprende com a mãe.

Ela gosta de todos os filhos, mas protege o mais debilitado.

Se precisa dar um pedaço a mais de carne para o mais debilitado, ela dá.

E ainda querem elogiar a Dilma para falar mal dele.

Engraçado !


Paulo Henrique Amorim


domingo, 27 de fevereiro de 2011

A revolução e os jornais de papel

via Terror do Nordeste

Acabou o jornal


Marcelo Carneiro da Cunha


Pois nada como uma revolução para percebermos que algo mudou. Aliás, para percebermos que muita coisa mudou. Nessa semana em que a Líbia passou a ocupar nossos corações e mentes – sendo que quem possui esses dois elementos está do lado contrário ao ditador e maluco, Kadafi – sabem os estimados sulvinteumenses como me mantive relativamente informado sobre a guerra? Não foi pela minha, sua, nossa, Zero Hora. Tampouco pela Folha de São Paulo. Ou pela Globo, ou pela CNN, ou pela BBC. Foi pelo Twitter, estimados leitores. Pelo Twitter, seguindo pessoas na Líbia, no Egito, na Tunísia, no Bahrein, que se tornaram estrelas mundiais na internet, como o egípcio Wael Ghonim, que era gerente do Google no Cairo e virou líder da revolução contra Mubarak.

Foi pelo Twitter que acompanhamos a ocupação do Complexo do Alemão – não pela imprensa, que não subia e nem sobe o morro -, mas pelos tweets de um jovem, Renê Silva, que havia criado o jornal A Voz da Comunidade, com uma redação de meninos entre 10 e 17 anos, e que agora se tornava a única voz a chegar até nós com jeito e veracidade de voz daquela comunidade.

Portanto, sejamos honestos para com nós mesmos, para com o fim de alguns dos nossos sonhos, admitindo que o jornal em papel jornal, acabou.

Se algum de vocês surgiram e cresceram no século 20, como esse que os atormenta, a sua vida foi mediada por algumas estruturas, tais como a escola, o jornal, a sala de cinema, o disco e as vitrolas, a televisão. Todos eles, sem exceção, estão ameaçados ou já em extinção, e isso não é nada, nada fácil, aceitar. Mas é verdade. Um jornal papel, produzido por inovações industriais como a prensa hidráulica, a linotipia, a distribuição mecanizada, foi a forma reinante de se produzir, distribuir e consumir informações por mais de cem anos. O cinema, como o conhecemos, em salas, com gente comendo pipoca e chorando, mais ou mesmo os mesmos cem anos. Os discos duraram um pouco menos, a televisão bem menos, os livros resistem, mas como, e por quanto tempo? As escolas criadas na lógica industrial, com seu enorme consumo e baixíssimo retorno – ao menos em termos de conhecimento efetivamente transferido para seus alunos – por quanto tempo mais irão resistir?

A primeira vítima é o jornal em papel, por motivos óbvios. Qual o sentido de você produzir papel, transportar por enormes distâncias, imprimir o papel, montar, separar, levar em poucas horas a pessoas distantes quilômetros e quilômetros da sede do jornal, a um custo imenso, para, ao final, o leitor receber no conforto da sua casa as notícias do que aconteceu no dia de ontem – que ele já recebeu pela internet?

Lá por 2007, com a forte expansão da base de computadores, com a portabilização crescente deles, com a ampliação rápida das redes de banda larga e com a consolidação de uma “cultura digital”, permeando todas as classes e faixas etárias, babaus. Viramos a esquina na direção de um novo universo de acesso a jornais por meio digital, via internet. A tendência é irreversível e previsível, algo mais ou menos como você ter uma carruagem a cavalo em 1910.

O cinema segue valendo, mas não o seu substrato. Não vamos mais ir até salas de cinema, comprar pipoca, pão de queijo ou pizza, ver aqueles trailers todos, gastar com transporte e estacionamento, mais a saída depois para talvez comentar o filme. Vamos ter cada vez mais telas em LCD ou plasma, (tevê já foi também artigo de luxo, lembram?), e ver filmes baixados da internet, no conforto do lar, sem a pipoca, ou com, se você gosta de barulho e cheiro de comida enquanto Almodóvar o sacode. A televisão mesmo, está do lado errado da tendência, por ser uniforme enquanto as pessoas não o são. A internet nos dá conteúdo no horário que queremos ou podemos, customiza nossos interessas e nos entrega quando e como o preferirmos. O bom e velho vinil virou CD, que não durou nada, e toda a indústria da música ficou a ver navios.

E os livros, estimados leitores, e os livros? Eu acho que uma guerra se avizinha, entre nós e nós mesmos. Na teoria, os livros estariam na mesma categoria dos jornais. Não vai haver uma razão prática para mantermos os livros em papel. Mas, como nem tudo no mundo é prático, talvez a gente resolva que, mesmo que possa viver sem livros em papel, talvez a gente não queira viver sem eles. Especialmente, talvez não possamos viver sem bibliotecas e livrarias. Talvez isso, e apenas isso, salve os nossos livros, mais nada.

Já tem gente falando em velha imprensa, versus a nova imprensa, que esse Sul 21 representa, já que nasceu e vive em meio digital, desde criancinha. Na verdade, o que todas essas transformações vêm nos dizer é que, e isso é pra valer, o século 20, por tudo que tenha sido ou representado, acabou. E que nós, seus herdeiros, precisamos aprender a lidar com o novo, que é mesmo novo, e pior, desconhecido.

Enquanto gerações passadas precisavam lidar com uma ou outra grande transformação, somos talvez os primeiros a ver tudo o que nos acostumamos a ter, desaparecendo, mais ou menos ao mesmo tempo. O século 21, estimados leitores, não é mesmo para principantes como todos, eu, você, o senhor aqui ao lado, ou meus sobrinhos, somos, e não temos como não ser.

* Jornalista e escritor

Fonte:Sul21

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Em uma decisão inédita a Polícia de SP indiciou 6 seguranças do Carrefour pelo crime de tortura motivada por preconceito racial.

Do Jornal Brasil de Fato

Brasil registra 1º indiciamento por tortura motivada por racismo

Seguranças do Carrefour agrediram o vigilante Januário Alves de Santana em 2009
24/02/2011
Até quando?
Jorge Américo
Radioagência NP


Em uma decisão inédita, no início deste mês, a Polícia de São Paulo indiciou seis seguranças da rede de supermercados Carrefour pelo crime de tortura motivada por preconceito racial. Eles agrediram o vigilante Januário Alves de Santana, em agosto de 2009, apontado como suspeito de roubar o próprio carro no estacionamento de uma das lojas em Osasco, na Grande São Paulo.

Também em Osasco, a dona de casa Clécia Maria da Silva, de 56 anos, foi parar no hospital depois de ter sido acusada de furto por seguranças da rede Walmart. Ela havia pagado pelas mercadorias, assim como um garoto de 10 anos, que foi ameaçado com um estilete por um segurança do supermercado Extra – que pertence ao grupo Pão de Açúcar. As ameaças ocorreram em uma salinha nos fundos da loja. Em ambos os casos, as vítimas eram negras.

Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar são as três maiores redes de supermercados que atuam no Brasil. Juntas, elas lucraram R$ 71,5 bilhões em 2009. Em entrevista à Radioagência NP, o advogado Dojival Vieira, que acompanha os casos citados, revela os métodos utilizados pelos agentes de segurança dessas empresas para proteger seu patrimônio. Entre outras revelações, ele relata as agressões e humilhações que ocorrem nas chamadas “salinhas de tortura”, para onde são levados os acusados de furto.

Radioagência NP - Os agressores do vigilante Januário foram indiciados por tortura. Qual a importância dessa decisão?
Dojival Vieira - É a primeira vez na história do Brasil que há um enquadramento, um indiciamento, no crime de tortura motivada por discriminação racial. Ou seja, a aplicação da Lei 9455/97 de forma exemplar. É uma decisão histórica, importante, ainda que, obviamente, seja apenas o começo, já que a partir do indiciamento, da conclusão do inquérito, ele será remetido ao Ministério Público. Caberá ao MP oferecer a denúncia e à Justiça aceitá-la, instaurar o processo, passar os indiciados a réus e condená-los de acordo com a lei.
Que argumentos você utilizou para pedir ao delegado que o crime fosse enquadrado como tortura?


Um homem que é suspeito do roubo do próprio carro, que é perseguido, que tenta se evadir para escapar com vida. É dominado, levado a um canto e torturado durante quase 30 minutos com socos, pontapés, tentativa de esganadura, que inclusive lhe provocaram fratura no maxilar, que provocaram a destruição da sua prótese dentária. Não se pode, obviamente, imaginar que isso seja lesão corporal leve.

O que acontece nas chamadas salinhas para onde são levados os suspeitos?


São espécies de salinhas de castigo, ou salinhas de tortura, em que seguranças despreparados, sem qualquer capacitação e importando essa cultura truculenta e autoritária, do “prende e arrebenta” do período militar, se autorizam, se sentem à vontade para assumir o papel que eles efetivamente não têm. Que é o papel de fazedores de justiça com suas próprias mãos.

Eles acabam exercendo um papel de polícia?


Não é só eles que não podem fazer isso. A polícia também não tem autoridade, em um estado democrático de direito, para bater, agredir nem praticar violência contra ninguém.

O que se pode fazer para acabar com esses abusos?

O Ministério da Justiça precisa fazer um acompanhamento mais amiúde, mais frequente, das atividades dessas empresas. Inclusive, o que se sabe, é que essas empresas de segurança têm mais homens trabalhando armados do que o contingente das Forças Armadas. Então, é uma situação de segurança pública, inclusive. O mercado em que operam as empresas de segurança, que é extremamente lucrativo, não pode operar de acordo com suas próprias leis.

Por que tanta truculência?


Essas empresas transportaram para as relações de consumo práticas que não são próprias da democracia, não são compatíveis com o estado democrático de direito. E as empresas que as contratam – os supermercados e shoppings – não tiveram até agora a preocupação de investir no treinamento e na capacitação desses funcionários.

Que critérios definem um suspeito?


No Brasil, por conta da herança de quase 400 anos de escravidão e de mais 122 anos de racismo pós-abolição, o negro é o suspeito padrão. Frequentemente, quase cotidianamente, as pessoas que são alvo dessas violências, dessas humilhações, desses constrangimentos, desses vexames, são pessoas negras de todas as idades.

Isso ocorre inclusive com crianças.


Eu, particularmente, tenho acompanhado alguns desses casos, e o último deles envolve uma criança de dez anos, que ao se dirigir ao supermercado Extra, da Marginal Tietê, na cidade de São Paulo, após passar no caixa e pagar normalmente as mercadorias que pegou – biscoitos, salgados, refrigerantes – foi abordado por seguranças, levado a um quartinho e obrigado a se despir sob a ameaça de chicotes, de agressão.

Literatura: Um ramo tanto da biblioteconomia quanto da psicologia, a biblioterapia vem ganhando adeptos no Brasil.

Via blog do Favre

25/02/2011 - 17:56hA cura pela leitura

Literatura: Um ramo tanto da biblioteconomia quanto da psicologia, a biblioterapia vem ganhando adeptos no Brasil.
AP“La Lecture”, de Picasso: “Sabemos que o poder da boa literatura é profundo e transformador, mas não nos advogamos como médicos. Somos doutores de livros!”, ressalta a britânica Ella Berthoud

Mariane Morisawa | Para o Valor, de São Paulo

Um relacionamento que termina é sempre um motivo de tristeza ou de pausa para repensar a vida. Para superar a fase difícil, que tal um bom livro? “Flashman”, de George MacDonald Fraser, sobre um soldado britânico pouco recomendável, condecorado por heroísmo, pode distraí-lo de sua autopiedade. “Do Amor”, de Stendhal, pode auxiliá-lo a lidar com a melancolia, e “As Consolações da Filosofia”, de Alain de Botton, pode servir mesmo de consolo. Acabou de perder o emprego? Dureza, mas não se desespere! Uma boa pedida é rir com o conto “Bartleby”, de Herman Melville, sobre um empregado que recebe a solicitação para fazer uma coisa e diz preferir não fazer, mas estranhamente continua dia e noite no escritório. Já quem sofre pelo luto pode encontrar suporte em “Uma Comovente Obra de Espantoso Talento”, de Dave Eggers, baseado na história do próprio autor, que perdeu os pais jovem e precisou cuidar do irmão, ou “Metamorfoses”, de Ovídio, que descreve as transformações de todas as coisas, da vida à morte.
Essas são indicações genéricas de Ella Berthoud, da School of Life de Londres, fundada em 2008. Na prática, as “receitas” são individualizadas. O interessado pode marcar uma consulta pessoalmente, por telefone ou Skype. Depois de responder a um questionário sobre suas preferências literárias e conversar com a especialista, recebe uma lista de livros mais adequados às suas aflições. Usar literatura para ajudar a superar alguma dificuldade ou dor tem nome: biblioterapia. Desde a Antiguidade há relatos de prescrição de livros para enfrentar problemas cotidianos, mas só no século passado a prática ganhou esse nome e os primeiros estudos sobre seus benefícios, principalmente para doentes e presidiários. No Brasil, ela começa a ser difundida, com trabalhos principalmente em hospitais, ainda que não haja grupos fixos até o momento.
A biblioterapia pode ser um ramo tanto da biblioteconomia quanto da psicologia. A bibliotecária Clarice Fortkamp Caldin, autora de “Biblioterapia: um Cuidado com o Ser”, prefere fazer a distinção. “Biblioterapeuta é o psicanalista que se vale da leitura como uma das terapias, pois desenvolve a biblioterapia clínica com o intuito de cuidar das patologias psíquicas”, diz. “O bibliotecário, a seu turno, desenvolve a biblioterapia de desenvolvimento, quer dizer, cuida do ser na sua totalidade, sem fazer julgamento do que é ou não normal. Costumo chamá-lo de ‘aplicador da biblioterapia’. Não é um título tão charmoso quanto o primeiro, mas me parece mais justo.”
Clarice começou a se interessar pelo assunto quando percebeu que o bibliotecário estava muito preso às funções técnicas, esquecendo-se do lado humanista da profissão. Em 2001, defendeu dissertação sobre a leitura como função pedagógica, social e terapêutica. Depois, elaborou um curso de 80 horas na Universidade Federal de Santa Catarina. Na sua opinião, a eficácia vem da falta de cobranças. “O aplicador de biblioterapia não prescreve uma norma de conduta nem um remédio a ser tomado em horários determinados. Dela participa quem quiser, quem tiver vontade de escutar uma história”, afirma. “Essa história agirá no ouvinte do jeito que ele achar melhor ou mais conveniente naquele instante de sua vida. Será digerida lentamente, ficará na sua mente ou no seu subconsciente por tempo indeterminado e poderá ser retomada a qualquer momento.” E, como é grátis, não precisa ser interrompida se o dinheiro estiver curto.
Em sua experiência de quatro meses na ala pediátrica de um hospital em Santa Catarina, na qual se executou a biblioterapia por meio de leitura, contação, dramatização de histórias e brincadeiras, as crianças, segundo ela, esqueceram-se de que estavam em um hospital. Os familiares também se beneficiaram com o alívio do estresse. Num presídio feminino, as sessões de contos e poesias ajudaram as participantes a superar a sensação de impotência e a saudade dos maridos e filhos. Elas saíram do estado de prostração e chegaram até a escrever um jornalzinho interno.
Normalmente, a biblioterapia se dá em grupo. O aplicador seleciona o texto, faz a leitura, narração ou dramatização de uma história e aposta no envolvimento do público. Cuida, ainda, de permitir a liberdade de interpretação, propiciar o diálogo, a catarse, a identificação, a introspecção. “É bom frisar que para esse mister se presta a literatura, quer dizer, a ficção. Textos informativos ou didáticos não são considerados biblioterapêuticos, porque não produzem a explosão e apaziguamento das emoções [catarse], não permitem a identificação com as personagens [experiência vicária], nem induzem à introspecção [reflexão sobre como nosso comportamento afeta o outro].”
Os livros infantis são os geralmente utilizados por Lucélia Paiva, doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo e autora da tese “A Arte de Falar da Morte: a Literatura Infantil como Recurso para Abordar a Morte com Crianças e Educadores”. Ela conta que descobriu o valor da biblioterapia intuitivamente. “Sentia que era mais fácil falar sobre certos temas com metáforas, de forma mais suave”, diz ela, que desenvolve trabalho voltado para pessoas em situações de crise e emergência, perdas e luto.
Lucélia começou a usar livros infantis para tratar de assuntos como a morte com seus sobrinhos. Mais tarde, conheceu o termo biblioterapia. Hoje, utiliza o mesmo gênero para adultos e crianças, em sessões em grupo ou individuais. “A Menina e o Pássaro Encantado”, de Rubem Alves, sobre uma garota que aprisiona uma ave numa gaiola por amá-la muito, serve para tratar de relações familiares ou conjugais e de luto. Já “Dona Saudade”, de Claudia Pessoa, ajuda a lidar com o luto e a saudade. “A Aids e Alguns Fantasmas no Diário de Rodrigo”, de Jonas Ribeiro e André Neves, auxilia na superação do estigma da doença.
As histórias, segundo ela, sempre precisam ter começo, meio e fim. “Não precisa ser final feliz, desde que exista uma solução. É ela que minimiza o sofrimento.” É preciso buscar o envolvimento do ouvinte, seja pela identificação com personagem ou história. “Se fizer eco, se fizer sentido, ele vai começar a ter um envolvimento emocional. A partir dessa catarse, pode identificar-se. E o desfecho daquele conflito do livro pode trazer para ele a possibilidade de desfecho de seus conflitos.” Ela afirma ter tido certeza de que dava certo quando soube que uma mãe enlutada tinha lido “Dona Saudade”, presenteada por uma amiga em comum, e espalhado o livro pelas outras pessoas afetadas pela perda de seu filho. Em outro caso, conseguiu, em sessão de psicoterapia, acessar até um trauma maior, fazendo uma senhora falar sobre o abuso sexual sofrido na infância.
Já os especialistas no ramo da biblioteconomia, ou aplicadores de biblioterapia, como descreve Clarice Fortkamp Caldin, deixam claro que a biblioterapia não é científica e não exclui os cuidados médicos. “Como arte, ela é criativa. Assim, o sujeito dela se vale para mitigar pequenos problemas pessoais. Cada um do seu jeito, usando a imaginação e de acordo com suas emoções”, diz ela. Para pessoas com problemas psicológicos sérios, pode ser auxiliar, sem ter a capacidade de cura. Mas dá seus resultados para quem embarca na viagem.
“Sabemos que o poder da boa literatura é profundo e transformador. Temos um feedback positivo de nossos clientes, que frequentemente voltam para mais sessões. Mas nós não nos advogamos como médicos. Somos doutores de livros!”, ressalta Ella Berthoud, da School of Life, que faz apenas atendimento individual. Para ela, funciona porque “você entra na cabeça de outra pessoa e vive outra vida por meio dos personagens do romance”. Essa experiência permite que se entenda melhor seus dilemas, se o livro for bem escolhido. “Você vê um personagem cometendo um erro e pode evitar fazer o mesmo. Outras vezes você vê os personagens superando as dificuldades, e isso dá a você, leitor, a resolução de resolver enfrentar a própria situação.” Fortalecido pela boa literatura ou por uma contação de histórias eficiente, ele tem a chance de estar mais apto a superar as dificuldades e os momentos de desânimo e de tristeza. Como se diz por aí, ler realmente faz bem, para a mente e para a alma.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EMPREGO CADA VEZ MAIS EM ALTA

Via blog do Favre

25/02/2011 -Pesquisas mostram mercado de trabalho ainda aquecido

Conjuntura: Criação de vagas formais foi a segunda mais alta para o mês de janeiro na série do Caged

João Villaverde e Luciana Otoni | VALOR

De São Paulo e Brasília
As duas principais pesquisas de emprego do país, divulgadas ontem, apontaram que o início de 2011 pode ser um momento de ampliação do mercado de trabalho, apesar das medidas recentemente adotadas para conter o ritmo de crescimento do país. As pesquisas trouxeram resultados acima do esperado pelos analistas.
Enquanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou saldo líquido de 152 mil vagas – 16% inferior ao forte janeiro de 2010, mas ainda assim o segundo melhor mês de janeiro da série histórica -, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou alta de 0,8 ponto percentual na taxa de desemprego, movimento sazonal para o período. Mesmo com o aumento, ela ficou em 6,1%, patamar historicamente baixo.
Os principais contratantes de mão de obra em janeiro foram as empresas de serviços, segundo os dados do Caged. Elas responderam por 48,1% das vagas criadas no mês, uma participação superior aos 31,8% de 2010, indicando um mercado aquecido e que tem aberto espaço para aumento de preços. Dentro do setor, o maior empregador foi o segmento prestador de serviços comerciais e de administração de imóveis, como corretores, com saldo de 36,1 mil vagas, refletindo o aquecimento imobiliário do país. A indústria criou 53 mil empregos em janeiro deste ano, representando 35% das novas vagas, um pouco abaixo dos 38% de participação alcançados em igual mês de 2011.
Para os economistas consultados pelo Valor, a menor demanda por vagas na indústria, comércio e construção sinaliza que a atividade econômica está desacelerando – mas ainda corre em ritmo bom. Dentre os segmentos industriais, por exemplo, apenas um registrou saldo negativo em janeiro – as fábricas de alimentos processados, com fechamento de 983 vagas. Já o segmento que produz materiais elétricos e de comunicações, com saldo positivo de 5,1 mil postos de trabalho, registrou o melhor resultado para meses de janeiro da série histórica, iniciada em 1999.
A parcela dos trabalhadores ocupados na indústria nas regiões metropolitanas, no entanto, permaneceu constante na comparação entre os meses de janeiro de 2010 e 2011. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o equivalente a 16,4% do total de ocupados no mês passado está nas indústrias de transformação e extrativa, mesma parcela verificada em janeiro de 2010.
O comércio, que sazonalmente dispensa os trabalhadores temporários em janeiro, após as festas de fim de ano, dobrou o tamanho do corte na pesquisa do Caged. Passou do corte líquido de 6,2 mil comerciários em janeiro do ano passado para 18,1 mil demissões em igual mês deste ano. Da mesma forma, o setor de construção civil diminuiu quase pela metade o saldo de vagas formais geradas – de 54,3 mil, em janeiro de 2010, para 33 mil no mês passado.
A tendência para o primeiro semestre de 2011 é que os resultados mensais das contratações sejam inferiores aos apresentados nos primeiros seis meses do ano passado, cujos números foram recordes. Além de uma base elevada de comparação que configura 2010, medidas adotadas pelo governo para controlar a inflação e frear o ritmo de expansão da economia tendem a reduzir o ritmo das admissões.
No Ministério do Trabalho, a avaliação é que o mercado formal de empregos continuará aquecido, embora possa passar por ajustes sazonais. A indicação é que o setor serviços e a construção civil liderarão a oferta de vagas nos próximos meses, seguidos por maior demanda nas empresas do agronegócio diante da perspectiva de safra agrícola recorde. Para o ministério, a indústria da transformação recontratou os demitidos de 2009, ampliou as equipes em 2010 e tende a demandar menos empregados este ano. Em meio a essas adaptações setoriais e ao ajuste macroeconômico para desacelerar o Produto Interno Bruto (PIB), o ministro Carlos Lupi acredita que o ano possa registrar 3 milhões de contratações líquidas.
O especialista em políticas públicas, Marcelo Neri, não considera essa meta factível. Ele avalia que o mercado formal de emprego passará por ajustes e ainda não está claro que o crescimento este ano possa resultar em 2,2 milhões de contratações, repetindo 2010 (na série antiga do Caged). Para Fabio Romão, especialista da LCA Consultores, o saldo deve ficar em 1,8 milhão de vagas, uma vez que setores dinâmicos, como construção civil, já esbarram na falta de mão de obra qualificada.
Segundo Fabio Ramos, analista da Quest Investimentos, a situação é mais perigosa para a indústria. “As condições ruins, como o câmbio valorizado e os mercados externos fechados, continuam. E os pontos positivos de 2010, como os incentivos fiscais e os salários subindo aceleradamente, já não estão no radar”, diz Ramos, que estima um saldo pouco inferior a 1,9 milhão de vagas formais no ano.
Além de uma possível acomodação no ritmo de oferta de vagas, Marcelo Neri observa que a regra de reajuste do salário mínimo – a ser corrigido anualmente até 2014 pela variação da inflação do ano anterior e pela variação do PIB dos dois últimos anos anteriores ao reajuste – pode reduzir a oferta de oportunidades com carteira assinada, ao tornar a mão de obra mais cara ao empresariado.
A divulgação dos números do Caged, ontem, confundiu os especialistas. Em nota, na semana passada, o Ministério do Trabalho apontou que “a partir de janeiro de 2011, serão disponibilizadas mensalmente as informações relativas aos vínculos empregatícios declarados fora do prazo legal”. Os analistas entenderam que seriam corrigidos os dados do próprio mês, mas o ministério, na divulgação de janeiro, corrigiu os dados de dezembro e assim fará a partir dos próximos meses.