segunda-feira, 27 de junho de 2011

Crise terminal do capitalismo?

Via blog do Miro

Boff e a crise terminal do capitalismo

Por Leonardo Boff, no sítio da Adital:

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: "não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

Lula foi designado pela presidente Dilma chefe de missão brasileira.

Do G1

Dilma nomeia Lula para chefiar missão do governo brasileiro na África

do G1
Lula foi designado pela presidente Dilma chefe de missão brasileira.
A presidente da República, Dilma Rousseff, nomeou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como chefe da missão especial do governo brasileiro na Assembleia Geral da União Africana, que ocorre em Guiné Equatorial entre esta terça-feira (28) e o dia 1º de Julho.
Segundo o Palácio do Palácio do Planalto, a nomeação de Lula foi feita no último dia 24 de junho, mas devido ao feriado só foi publicada nesta segunda-feira (27) no “Diário Oficial da União (DOU)”.
O encontro deste ano tem como tema “Empoderamento da Juventude para o Desenvolvimento Sustentável”. Lula deve falar sobre o tema do encontro para os chefes de estado e de governo no dia 30 de junho.
Desde que deixou a Presidência, Lula tem se dedicado a iniciativas para a promoção da integração e cooperação do Brasil com os países africanos.
Além do ex-presidente, que vai chefiar a missão, a delegação brasileira terá a presença do embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, Subsecretário-Geral Político do Ministério das Relações Exteriores, Eliana da Costa e Silva Puglia, embaixadora designada do Brasil para a República da Guiné Equatorial e de Isabel Cristina de Azevedo Heyvaert, embaixadora do Brasil em Adis Abeba.
Fonte: Blog do Esmael

domingo, 26 de junho de 2011

MISS FEBRE AMARELA QUER AGORA O STATUS DE MISS HACKER

DO TIJOLAÇO

No vale-tudo para atacar o Governo brasileiro, hoje a D. Eliane “Massa Cheirosa” Cantanhede se superou, com seu artigo “Hackers pela Ética”, tranformando um grupo anárquico, que buscava, confessadamente, a notoriedade que a mídia lhes deu e não parecia interessado em revelações de interesse social, mas em divulgar CPF, listas de e-mail e em “derrubar” sites oficiais.
“Com CUT, UNE e MST fora de combate a partir de Lula, por conveniência ou oportunismo, entra em ação pela ética pública um tal de LulzSec para azucrinar e expor os Poderes da República.”, escreve a colunista.
Ora, esses grupos, se têm de ser responsabilizados por danificarem propriedade pública (arquivos) e impedir o funcionamento dos sites, não devem nem ser demonizados nem endeusados, duas faces de um mesmo processo.
Não são assunto de política, mas de providências tecnológicas e administrativas. Até porque não guardam nenhuma relação com “segredos de Estado”, como se disse, mas com a sabotagem do funcionamento de sites públicos e violação de dados pessoais.
O que estes “hackers” estão fazendo nada tem a ver com transparência, com publicização de atos secretos de governo tomados à sombra do desconhecimento da sociedade, como fez, por exemplo, o Wikileaks.
Aliás, quem melhor respondeu a isso foi um ouro grupo de “hackers”, ontem, no Correio Braziliense:
“Em meio às recentes invasões a sites governamentais, o grupo Transparência Hacker afirma não ter relação com os responsáveis pelos ataques e aproveita o momento para discutir a própria atuação. Segundo seus participantes, a organização, objeto de reportagem do Correio de 21 de maio, tenta se desvencilhar das ações criminosas. “Trabalhamos com dados que são abertos. Nossa luta é divulgar informações governamentais que já são públicas, tornando-as mais acessíveis”, explica o articulador de redes Diego Casaes, 23 anos. Ele desaprova a publicação de dados como telefones de ministros ou o CPF da presidente Dilma Rousseff, por exemplo. “Essas informações são pessoais, não públicas. Entendo que devem permanecer sigilosas, porque dizem respeito à pessoa”, afirma.”
É isso que D. Cantanhede elogia, ao afirmar que “o alerta para os governos e demais Poderes é que a sociedade, de alguma forma, está de olho.
Quando um grupo de hackers tem mais respeito pela privacidade que uma colunista de um jornal como a Folha, quando se trata de atingir o objetivo político de atacar o governo Dilma é bom a gente se cuidar.
Mas, reconheça-se, não apenas a colunista da “massa cheirosa”, mas toda imprensa, sem capacidade de separar seus ódos políticos ao Governo da instituição Estado, deu o tamanho e a projeção que era aquilo que estes grupos, no fundo, pretendiam.

AMAI-VOS UNS AOS OUTROS: BASTA DE HOMOFOBIA

DO COM TEXTO LIVRE

Parada Gay: estima-se em 4 milhões o número de participantes

Carta Aberta da Associação da Parada do Orgulho GLBT ao Povo Brasileiro
Em 2010 mais de 260 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram assassinados no Brasil, em ataques tipificados pelas autoridades como crimes de ódio. Uma sociedade que vende para o resto do mundo uma imagem de “acolhedora” e “diversa” está com suas mãos sujas de sangue. Nós, brasileiros, carregamos o título de país líder em assassinatos e violência contra LGBT.
Aqui se mata mais homossexuais do que nos países islâmicos em que a homossexualidade ainda é condenada pela lei com a pena de morte. A semelhança entre o Brasil e nações como o Irã, Arábia Saudita e os Emirados Árabes é que aqui a pena de morte aos LGBT também se dá através da fé e da religião, que, na teoria, não têm poder de interferência em nossa constituição, porém, na prática, têm sistematicamente regido a tão profanada Lei dos Homens, que deveria ser isenta e igualitária.
É inegável que a conquista da cidadania tem avançado para a população LGBT; um mérito que não é apenas da militância e do movimento organizado, mas também da nossa sociedade como um todo, que tem se mostrado comprometida contra o preconceito e todas as formas de discriminação.
Porém, como toda ação gera uma reação, observamos o recrudescimento dos setores conservadores. Eis que vemos no Brasil o surgimento de uma mobilização capaz de unir fundamentalistas e extremistas de direita, religiosos e nazifascistas, que numa voz uníssona bradam contra os direitos humanos de milhões de cidadãs e cidadãos.
Antes, nossos algozes agiam na calada da noite, nos violentando em becos à surdina, como se, nos atingindo individualmente, pudessem nos exterminar pelas beiradas. Hoje, saem às ruas, fazem abaixo-assinados, manifestam-se na Avenida Paulista e marcham sobre a Esplanada dos Ministérios para barrar a garantia de nossa dignidade.
Trata-se de uma versão brasileira do movimento norte-americano “God Hates Fags”. A diferença é que, aqui, os que creem que “Deus odeia as bichas” são muitos, têm forte representatividade no Congresso, recebem a atenção da imprensa e, infelizmente, ganham adeptos.
Na história da humanidade, o nome de Deus não somente foi usado diversas vezes em vão, como serviu para respaldar a violência e morte de diversas minorias. A escravidão dos negros africanos, a condenação dos judeus e a perseguição às mulheres no período de “caça às bruxas” são exemplos disso. Como herança cultural, ainda temos estabelecido o patriarcalismo e a soberania de brancos como regras informais de nossa civilização ocidental contemporânea. A Inquisição ainda está viva no que diz respeito à homofobia, mas não só a ela.
Em tempos modernos, os inquisidores apenas trocaram a tocha e a fogueira pela lâmpada fluorescente, mas a condenação ainda ocorre em praça pública, consentida e assistida por muitos.
Há quinze anos, a primeira Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu 2 mil pessoas para dizer que “somos muitos, estamos em todas as profissões”. Nos dias de hoje, os mais de 3 milhões que nos acompanham, multiplicados pelas mais de 200 Paradas que ocorrem em todo o território nacional, reafirmam isso e vão além.
Estamos em todas as profissões, famílias, lares, escolas, esportes e igrejas. Sim, mesmo sem você saber, sempre existiu e sempre existirá um LGBT ao seu lado, a quem você jamais gostaria de saber ter sido vítima de bullying, humilhação, agressão moral, violência física, sexual ou homicídio. Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o principio básico da religião?
Se “quem ama conhece a Deus”, qual seria a determinação religiosa para aqueles que professam o ódio e a ira? Não é condenável levantar falsos testemunhos sobre a compreensão da complexidade humana, assim como sobre toda e qualquer ação que visa proporcionar o reconhecimento da existência de uma população comum? Se para os crédulos, Deus não faz acepção de pessoas e todos são iguais perante a Ele, porque insistem em nos manter à margem?
Respeitosamente, nos apropriamos da frase “Amai-vos uns aos outros” para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos, financiada pelas brasileiras e brasileiros que dão voz aos fundamentalistas e extremistas que ocupam as cadeiras do Parlamento e espaço nas mídias. Nós, os perseguidos, apesar de já estarmos calejados de oferecer a outra face, usamos de suas crenças para dizer: “Perdoai-vos. Eles não sabem o que fazem”.

sábado, 25 de junho de 2011

Gleisi desmente a demente Revista (não) Veja

Do blog da Maria Frô

E Veja se retrata do vexame numa nota de pé de página



Por que a resposta precisa e rápida da ministra Gleisi como a dada em nota oficial é importante? Porque prevalece o fato e não o factóide e porque não tem preço ver barriga de jornalista que não apura notícia.
“(Atualização, às 13h23: houve um lamentável erro de apuração na nota acima. O apartamento da ministra Gleisi Hoffman, comprado em 2003, possui 192 metros quadrados. A ministra esclarece que o imóvel valorizou-se, mas não chega a valer 900 000 reais)

Nota oficial da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann

Nota Oficial
Sr. Lauro Jardim
Editor da Coluna Radar
Revista Veja
O apartamento que possuo em Curitiba tem menos de 190 metros quadrados de tamanho e não 412 metros, como afirma nota divulgada hoje, 25, no Radar on-line. Há outros erros na nota. A saber: diferentemente do que informa Lauro Jardim, a lei não permite, mas DETERMINA que o valor declarado ao Imposto de Renda seja o de compra. Assim, o apartamento, que adquiri em 2003, tem sido declarado pelo valor de compra desde a declaração de 2004. Sobre o valor de R$ 900 mil, citado na nota: é claro que meu apartamento valorizou-se nestes oito anos após a compra, mas, se Lauro Jardim ou o corretor que, diz ele, avaliou o imóvel, desejarem comprá-lo por este preço, podemos conversar.
Gleisi Hoffmann

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Leonardo Boff: "novo começo: a sustentabilidade e o cuidado."

Via adital.org

Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir
Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital


Há muitos anos, venho trabalhando sobre a crise de civilização que se abateu perigosamente sobre a humanidade. Não me contentei com a análise estrutural de suas causas, mas, através de inúmeros escritos, tratei de trabalhar positivamente as saídas possíveis em termos de valores e princípios que confiram real sustentatibilidade ao mundo que deverá vir. Ajudou-me muito, minha participação na elaboração da Carta da Terra, a meu ver, um dos documentos mais inspiradores para a presente crise. Esta afirma: "O destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”.

Dois valores, entre outros, considero axiais, para esse novo começo: a sustentabilidade e o cuidado.

A sustentabilidade, já abordada no artigo anterior, significa o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem prejudicar o capital natural, mantido em condições de sua reprodução, em vista ainda ao atendimento das necessidades das gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável.

Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de economia respeitadora dos limites de cada ecossistema e da própria Terra, de uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e de um meio ambiente suficientemente preservado para atender as demandas humanas.

Como se pode inferir, a sustentabilidade alcança a sociedade, a política, a cultura, a arte, a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmente importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização. O que, na verdade, estamos constatando, com clareza crescente, é que o nosso estilo de vida, hoje mundializado, não possui suficiente sustentabilidade. É demasiado hostil à vida e deixa de fora grande parte da humanidade. Reina uma perversa injustiça social mundial com suas terríveis sequelas, fato geralmente esquecido quando se aborda o tema do aquecimento global.

A outra categoria, tão importante quanto a da sustentabilidade, é o cuidado, sobre o qual temos escrito vários estudos. O cuidado representa uma relação amorosa, respeitosa e não agressiva para com a realidade e por isso não destrutiva. Ela pressupõe que os seres humanos são parte da natureza e membros da comunidade biótica e cósmica com a responsabilidade de protegê-la, regenerá-la e cuidá-la. Mais que uma técnica, o cuidado é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos.

Se a sustentabilidade representa o lado mais objetivo, ambiental, econômico e social da gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota mais seu lado subjetivo: as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo sem os quais a própria sustentabilidade não acontece ou não se garante a médio e longo prazo.

Sustentabilidade e cuidado devem ser assumidos conjuntamente para impedir que a crise se transforme em tragédia e para conferir eficácia às praticas que visam a fundar um novo paradigma de convivência ser-humano-vida-Terra. A crise atual, com as severas ameaças que globalmente pesam sobre todos, coloca uma impostergável indagação filosófica: que tipo de seres somos, ora capazes de depredar a natureza e de por em risco a própria sobrevivência como espécie e ora de cuidar e de responsabilizar-nos pelo futuro comum? Qual, enfim, é nosso lugar na Terra e qual é a nossa missão? Não seria a de sermos os guardiães e os cuidadores dessa herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram que é esse Planeta, vivo, que se autorregula, de cujo útero todos nós nascemos?

É aqui que, novamente, se recorre ao cuidado como uma possível definição operativa e essencial do ser humano. Ele inclui um certo modo de estar-no-mundo-com-os-outros e uma determinada práxis, preservadora da natureza. Não sem razão, uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade e que culmina em Heidegger e em Winnicott defina a natureza do ser humano como um ser de cuidado. Sem o cuidado essencial ele não estaria aqui nem o mundo que o rodeia. Sustentabilidade e cuidado, juntos, nos mostram um caminho a seguir.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

É hora de colocar os pingos nos is!

Por Eduardo Guimarães, em seu blog

Colunistas da grande imprensa andaram compondo odes ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (18 de junho de 1931) por conta da comemoração dos seus bem vividos oitenta anos. Alguns textos foram constrangedoramente bajuladores. Esses mesmos colunistas, porém, tratam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com desdém e ironia.
É hora de colocar os pingos nos is. Os colunistas da imprensa ubilicalmente ligada ao projeto de poder do PSDB – ou de seus caciques de cocares mais empenados – podem fazer as suas escolhas políticas, mas precisam parar de mentir ao negarem que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e que este legou àquele uma herança maldita.
Para comprovar o que digo, valer-me-ei de fonte desses colunistas. No caso, a fonte é de uso do colunista de O Globo – e mais novo “imortal” da Academia Brasileira de Letras – Merval Pereira, que assina hoje (22/6), naquele jornal, artigo em que dá conta de Estudo institulado “Redução da desigualdade da renda no governo Lula — Análise comparativa”, do professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como faz, ininterruptamente, há anos, o colunista de O Globo se vale de parte daquele estudo para induzir o leitor a acreditar em premissas de um dos dois estudos de que trata este artigo que mostrariam que não houve nenhuma grande distribuição de renda durante o governo Lula e que a que ocorreu teria feito parte de um processo mundial em que o governo anterior “surfou”.
Eis o que interessa do artigo “Desigualdade persiste”, de Merval Pereira:
(…) O Brasil experimenta melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, já que sai da 4ª posição no ranking mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.
No conjunto dos países que mostram melhores resultados quanto à redução da desigualdade, o Brasil ocupa a 3ª posição, atrás da Venezuela (projeto de orientação socialista) e do Peru (projeto liberal), o que demonstra que os programas sociais não encontraram barreiras ideológicas à sua execução (…)
Merval, como de costume, conta parte da história. Para julgar por si mesmo, o leitor que se sentir preparado para julgar um texto acadêmico complexo, poderá lê-lo clicando aqui. O texto, porém, incorre em um erro básico: ignora os resultados sociais obtidos pelo governo Lula, apesar de reconhecer que a comparação dos resultados tem que obedecer às condições objetivas de cada governo.
Mas, de fato, a conclusão do estudo usado por Merval Pereira é a de que tanto o governo FHC quanto o governo Lula foram fracos em termos de crescimento econômico, o que fez com que a redução da concentração de renda tenha tido desempenho insuficiente nos governos dos dois ex-presidentes, ainda que com larga vantagem para Lula.
O uso desse estudo por um dos que mais se derramaram em declarações de amor pelo ex-presidente tucano por si só derruba qualquer contestação a outro estudo do mesmo acadêmico da UFRJ que produz algumas conclusões que esses colunistas negam reiteradamente, como as de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou àquele uma legítima herança maldita.
O estudo “Análise Comparativa do governo Lula – resultados e metodologia”, de autoria do mesmo professor Reinaldo Gonçalves e divulgado em 28 de abril de 2010, não alivia para governo nenhum. Mas, quando chega na comparação entre os governos FHC e Lula, tem que reconhecer que, apesar dos resultados insuficientes dos dois, o de Lula foi melhor. E que poderia ter sido melhor se não fosse a herança que recebeu.
Eis a comparação pura e simples dos dois governos no ranking dos que melhores resultados obtiveram:
(…) O governo FHC ocupa a 28ª posição e o governo Lula a 23ª posição em um conjunto de 29 governos. Vale notar que o governo FHC é o segundo pior da história republicana (só perde para o governo Collor). No conjunto de 6 indicadores o governo Lula tem melhor desempenho que o governo FHC em 5 indicadores (…)
(…) Em defesa do governo Lula pode-se argumentar que parte expressiva do seufraco desempenho decorre da “herança negativa” do governo FHC derivada, principalmente, do desequilíbrio das finanças públicas (…)
A íntegra do estudo que este blog contrapõe ao estudo usado por Merval Pereira pode ser lida aqui.
Como já disse, nenhum dos dois estudos pega leve com governo nenhum. Aliás, ambos são injustamente duros com o governo Lula porque desconhecem um fator crucial, os resultados tanto da distribuição de renda quanto da redução da pobreza ou do crescimento exponencial da influência do Brasil no cenário internacional são solenemente ignorados.
Contrapondo-se os dois estudos com os dados do IBGE, vê-se que, apesar de a redução da desigualdade ter sido apenas mediana em relação ao mundo, dentro da realidade brasileira foi a maior ocorrida nos últimos cinqüenta anos, conforme pode ser constatado no artigo IBGE explica por que a elite odeia Lula, publicado neste blog no mês passado. Jamais houve distribuição de renda igual no período que vai de 1960 a 2010.
Além disso, há que se levar em conta a conjuntura mundial durante a era Lula. FHC recebeu um país com a economia arrumada, ainda que ele tenha sido o responsável por essa arrumação ao fim do governo Itamar Franco, enquanto que Lula recebeu um país altamente fragilizado, sabotado incessantemente pela grande mídia e pela oposição e que enfrentou a maior crise econômica mundial dos últimos oitenta anos.
De qualquer forma, se a coalizão político-midiática que Merval Pereira integra quer usar os dados do professor Reinaldo Gonçalves, certamente tem que endossar as conclusões dele de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou uma herança maldita àquele… Certo?

Boa notícia: Desemprego em maio é o menor desde 2002

Da Agência Brasil, via Terror do Nordeste

Desemprego em maio é o menor desde 2002


Enquanto isso, os demotucanos torcem pelo quanto pior, melhor.

Rio de Janeiro – A taxa de desemprego fechou o mês de maio em 6,4%, informou nesta quarta-feira 22 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é o menor para o mês de maio desde o início da série de coleta de dados da Pesquisa Mensal de Emprego, em 2002.


A taxa de maio também ficou estável em relação à registrada um mês antes. Na comparação com o mesmo período de 2010, quando o indicador ficou em 7,5%, houve diminuição de 1,1 ponto percentual.

De acordo com o levantamento, a população desocupada no país foi estimada em 1,5 milhão de pessoas e não aumentou em relação ao mês anterior. Na comparação com maio de 2010, esse contingente teve queda de 13,7%, o que indica que em maio deste ano havia 242 mil pessoas a menos em busca de emprego.

A população ocupada também ficou estável na passagem de um mês para outro, totalizando 22,4 milhões de trabalhadores, e aumentou 2,5% em relação a igual período de 2010. Com isso, em maio deste ano, havia 552 mil pessoas a mais ocupando postos de trabalho.

O documento do IBGE aponta ainda que o rendimento médio dos trabalhadores ocupados ficou em R$ 1.566,70 em maio, representando o valor mais elevado para o mês de maio desde o início da série da pesquisa. Em relação a abril, houve aumento de 1,1%; e alta de 2,5% na comparação com maio de 2010.

O número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 10,8 milhões de pessoas, o que demonstra estabilidade em relação a abril e elevação de 6,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado aponta um adicional de 676 mil postos de trabalho formais entre os dois anos.


A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) avalia a situação do mercado de trabalho em seis regiões metropolitanas – Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre.


Agência Brasil

terça-feira, 21 de junho de 2011

Lula recebe prêmio internacional por combate à fome

Do Portal Nassif

O Prêmio Food World 2011 para Lula

Lula recebe prêmio internacional por combate à fome
21/06/2011
Os ex-presidentes Lula (Brasil) e John Agyekum Kufuor (Gana) receberam Prêmio Food World 2011
Renata Giraldi, da Agência Brasil
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e John Agyekum Kufuor (Gana) receberam hoje (21) o Prêmio Food World 2011, em cerimônia no Departamento de Estado norte-americano, em Washington, nos Estados Unidos. Ambos foram escolhidos pelos esforços feitos durante seus governos para executar políticas públicas de combate à fome e à pobreza.
Em 1986, o World Food Prize foi criado por Norman E. Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1970. Desde então, premia pessoas que buscam melhorar a qualidade de vida no mundo a partir da distribuição de alimentos. Já foram premiados cidadãos de Bangladesh, do Brasil, da China, de Cuba, da Dinamarca, da Etiópia, da Índia, do México, de Serra Leoa, da Suíça, do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Gana se tornou o primeiro país da Região Subsaariana da África a reduzir pela metade a proporção de pessoas que passava fome no país. Segundo dados oficiais, em Gana, a taxa de pobreza foi reduzida de 51,7%, em 1991, para 26,5%, em 2008. A taxa de pessoas que passava fome caiu de 34%, em 1990, para menos de 9%, em 2004.
"O [ex-] presidente Kufuor e o [ex-] presidente Lula da Silva definiram um poderoso exemplo para outros líderes políticos do mundo", disse o presidente do Prêmio Food World, o embaixador Kenneth M. Quinn. "Graças ao seu empenho pessoal e à liderança visionária, Gana e o Brasil estão a caminho de ultrapassar o Objetivo do Milênio 1, que é reduzir à metade a fome extrema antes de 2015."
Lula, de acordo com as informações do prêmio, determinou que mais de dez ministérios se concentrassem nos programas de transferência de renda capitaneados pelo Fome Zero, permitindo que mais pessoas tivessem acesso à alimentação.
O ex-presidente foi elogiado também pelo estímulo à agricultura familiar e aos projetos de educação para crianças. Pelos dados oficiais, o Brasil reduziu de 12% a faixa de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza , em 2003, para 4,8%, em 2009.

sábado, 18 de junho de 2011

Encontro dos Blogs Progressistas tem Lula na abertura

Do Blog do Miro

Encontro testa a força da blogosfera

Por André Cintra, no sítio Vermelho:

Com 469 participantes inscritos e depois de 14 encontros estaduais, começa nesta sexta-feira (17), em Brasília, o 2º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas. Uma palestra do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, abrirá a programação, às 19 horas, no auditório da CNTC (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio), com a marcante presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O evento é encarado como um teste para a blogosfera — que, diferentemente de 2010, já não conta com o estímulo de uma acalorada eleição à Presidência da República. No ano passado, às vésperas da primeira edição do encontro dos blogueiros, o então presidenciável tucano, José Serra, chegou a “homenagear” os participantes ao chamar suas páginas de “blogs sujos”.

O 1º Encontro, de quebra, ocorreu em São Paulo, onde a blogosfera é maior e concentra muitos protagonistas da área, como os jornalistas Luis Nassif, Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães e Altamiro Borges. Mais de 300 blogueiros, tuiteiros, jornalistas, acadêmicos e ativistas das redes sociais participaram daquela edição.

Sem eleição e fora do eixo Sul-Sudeste, quais poderão ser as marcas desta segunda edição, que se estende até domingo?

Na opinião de Altamiro Borges, do Blog do Miro e da Comissão Organizadora do 2º Encontro, a mobilização nos estados é um dos novos trunfos dos blogueiros progressistas. Em 2010, nem sequer houve encontros intermediários — mas somente o evento nacional. Desta vez, cerca de 1.800 pessoas se reuniram no total dos encontros estaduais.

“O movimento descentralizou, ganhou uma certa dinâmica própria e adquiriu maior legitimidade”, afirma Miro. “Os próprios estados se viraram para realizar seus encontros, de forma autônoma, pluripartidária, com a presença de parlamentares e governantes, além do apoio de sindicatos e de instituições. Alguns desses encontros bombaram, como o de Pernambuco, com umas 300 pessoas.”

A proposta da Comissão Organizadora é descentralizar ainda mais. “Acreditamos que, no ano que vem, já possam ocorrer encontros municipais e regionais. Os encontros estaduais voltariam em 2013, e o 3º Encontro Nacional, em 2014, coincidindo com a eleição. Se atingimos 14 estados, por que não pensar em uns 20 até lá?”, explica Miro.

Segundo o jornalista-blogueiro, a participação de Lula — que falará na abertura do encontro sobre a importância da blogosfera — é garantia de “certo impacto político”. Já a presença de Paulo Bernardo “fortalece a pressão do movimento” sobre o governo Dilma. O Plano Nacional de Banda Larga, a democratização da mídia e a definição do marco regulatório da comunicação são os temas que devem dominar os debates.

O 2º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas será transmitido em tempo real pela Rede Brasil Atual e pela Rede TVT.


Lula na abertura do IIBlogProp





Num mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, o ensino de ciências deve começar na pré-escola.

Via Conteúdo Livre
DRAUZIO VARELLA - A ignorância e o corpo
Tive que escutar um discurso interminável sobre a superioridade da medicina natural

EM MATÉRIA de corpo humano, a ignorância brasileira é crassa. Nosso currículo escolar devia dedicar mais tempo e atenção à anatomia e à fisiologia, para que as crianças se formassem com conhecimentos mínimos sobre o funcionamento do organismo.

Não admitimos que nossos filhos estudem em colégio que não lhes ensine informática. Fazemos questão que se familiarizem com os computadores, sem os quais serão atropelados pela concorrência do futuro, mas aceitamos que ignorem a organização básica da estrutura da qual dependerão para respirar até o dia da morte.
Houvesse mais interesse em despertar no aluno a curiosidade de decifrar como funciona essa máquina maravilhosa, que a evolução fez chegar até nós depois de 3,5 bilhões de anos de competição e seleção natural, desde pequenos trataríamos o corpo com mais respeito e sabedoria e não daríamos ouvidos a teorias estapafúrdias, a superstições, ao obscurantismo e à pseudociência que faz a alegria dos charlatães.
Entendo que uma pessoa simples e sem instrução diga que fica gripada quando apanha friagem, que engorda por causa da tireoide ou que se queixe: "Sou agitada porque tenho sistema nervoso". O que não consigo compreender é como gente que cursou as melhores faculdades e tem acesso irrestrito à informação de qualidade consegue conformar-se com tanta ignorância em relação ao corpo que a acompanhará pela vida inteira. Gente que diz "eu não faço febre", que ao falar do baço aponta para o lado direito do abdômen, e que convive durante meses com sintomas de doenças graves, sem notar que existe algo errado.
Semanas atrás encontrei uma amiga, professora universitária, chocada com o médico que lhe havia receitado um analgésico para aliviar a dor de cabeça que a atacava no período pré-menstrual. "Também, o que se poderia esperar de um cidadão que confessou não saber em que século aconteceu a Revolução Francesa", acrescentou com desdém.
Por outro lado, estava encantada pelo naturalista que, em vez de contentar-se em tirar-lhe a dor, como faria qualquer alopata obtuso, propunha tratar a causa da cefaleia com pílulas que corrigiriam o equilíbrio energético do órgão em quem os brasileiros jogam a culpa de todos os achaques: o coitado do fígado.
Como os anos me ensinaram a não questionar pensamentos mágicos nem crenças religiosas, juro que ouvi o relato com uma expressão facial tão impassível quanto se me houvessem contado que naquele momento garoava em São Petersburgo. A prudência foi de pouca valia, no entanto; tive que escutar um discurso interminável sobre a superioridade da assim chamada medicina natural e do valor nutritivo dos alimentos orgânicos.
Depois de tudo, o epílogo: "Pena que você não acredita nessas coisas".
Acreditar? A medicina é um ramo da biologia, ciência que se propõe a estudar os seres vivos e as leis que os regem, não é domínio da crença; não é religião.
Invejo os homens que consertam o carro que dirigem. Quebrou na estrada, eles pegam as ferramentas, abrem o capô e reparam o defeito. Para resolver uma emergência dessas é necessário conhecer mecânica, entender como as peças foram engendradas e saber repará-las. Nessa hora, quem acreditaria em medidas alternativas para ativar a energia vital do motor com gotinhas pingadas no tanque de gasolina de duas em duas horas? Alguém faria o carro andar apenas com a força do pensamento positivo?
O organismo humano é a estrutura mais complexa que conhecemos -alguns o consideram mais complexo do que o próprio Universo. Estudar os mecanismos responsáveis pela circulação e oxigenação do sangue, pela digestão dos nutrientes, ter uma ideia de como ocorrem as principais reações metabólicas e aprender que nosso corpo é uma máquina que se aperfeiçoa com o movimento é a melhor forma de evitar que ele nos deixe no meio da estrada.
Num mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, o ensino de ciências deve começar na pré-escola. Aprendendo desde cedo, as crianças incorporarão o pensamento científico à rotina de suas vidas e descobrirão belezas e mistérios inacessíveis aos que desconhecem os princípios segundo os quais a natureza se organizou.
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sexta-feira, 17 de junho de 2011

A MINISTRA E GRACE KELLY

DO TERRA MAGAZINE
O nome da ministra e outras notas

Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Os pais eram fãs de Grace Kelly e queriam dar seu nome à filha. O tabelião achou que o nome (a pronúncia é, aproximadamente, greici) estava errado e grafou Gleisi. Em um caso (o final do nome), dobrou-se à pronúncia. No outro, decidiu corrigir.
O tabelião poderia cometer três erros de grafia, considerados diversos fenômenos. Poderia escolher diversas alternativas para a grafia do som "s": c, s, ss ou sc (escolheu s). Poderia escrever o som final com e ou com i (escolheu i). E poderia grafar o segundo som da primeira sílaba com r (se soubesse que é um nome estrangeiro ou mesmo se considerasse palavras como "graça"), mas escolheu l, provavelmente porque o r lhe pareceu caipira ou popular ou "errado", adjetivos aos quais muitos dão o mesmo sentido. Corrigindo a pronúncia, em certo sentido, se deu mal. Talvez achasse, hoje, que foi a invenção de um nome para a menina que lhe deu sorte. Vai ver ele acreditava em numerologia...
A variação (mudança) de l em r se chama rotacismo (continua sendo! não é dislexia!). Ocorre em contextos como flamengo / framengo (quando o l é a segunda consoante da sílaba) e algum / argum, quando o l está no final da sílaba. Nunca ocorre com l no começo da sílaba, qualquer que seja a origem social ou o grau de instrução do falante (lado é sempre lado, nunca rado).
Analisar erros de grafia revela muitos traços da língua. Mattoso Câmara escreveu um texto sobre o tema já em 1957 ("Erros de escolares como sintoma de tendências linguísticas no português do Rio de Janeiro" - que vale para o Brasil)! Deveria ser leitura obrigatória! Talvez nos divertíssemos menos com "placas do meu Brasil", ou, quem sabe, bem mais, porque saberíamos analisar os dados.
Menos
Uma das marcas do português popular é a forma menas (ver o dicionário Houaiss), que serve para ilustrar dois fatos: a) dialetos populares são tão regrados quanto qualquer outra "versão" da língua: menos sempre precede nomes femininos (menas maracutaia, menas comida; nunca *menas dinheiro, por exemplo); b) quando os cultos querem rir dos incultos, atribuem-lhe formas que eles mesmos engendram; uma é "a zelite" que, se fosse adequadamente transcrita, seria "as elite"; a outra eu só vi no Observatório da Imprensa, que tinha uma sessão chamada: Português de Menas. Faltou observação.
Preconceito?
Argumentos de autoridade quase nunca são bons. Mas, às vezes, vale recorrer a eles. Muita gente que não é do ramo acha que "preconceito linguístico" é invenção de lingüista talibã... Então, vejamos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, no verbete "preconceito":
p. lingüísticoLING qualquer crença sem fundamento científico acerca das línguas e de seus usuários, como, p. ex., a crença de que existem línguas desenvolvidas e línguas primitivas, ou de que só a língua das classes cultas possui gramática, ou de que os povos indígenas da África e da América não possuem línguas, apenas dialetos (ênfase minha, S. P.)
A abreviação LING quer dizer "Lingüística". Esse Houaiss era um bobão, não era?
Normal
Leitores duvidaram que Caetano tenha dito "cantá ela". Disse. E não vejo nenhum problema nisso. Sua fala mostra que ele é normal, mesmo de perto.

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.

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