sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dize-me com o que andas, e dir-te-ei quem és.

 

Oposições: em que mundo elas vivem?

publicada sexta-feira, 13/08/2010


Oposições brasileiras: em que mundo elas vivem?

Por Flavio Aguiar
Dize-me com o que andas, e dir-te-ei quem és. Perdoem-me a empolação da mesóclise(!) e o deslocamento do ditado antigo, mas isso tem a ver com o assunto central de hoje. Mas comecemos pelas laterais do campo, imagem propícia em temos de decisão da Libertadores.
Informações divulgadas recentemente dizem que em 15 anos a China terá a maior economia do mundo em volume monetário. Já é a segunda, tendo superado há pouco a do Japão, a da França e da Inglaterra em 2005 e a da Alemanha em 2007. Quem diz? O Banco Mundial, a empresa Goldman Sachs (http://www.cnbc.com/id/38482538), e outras fontes do tipo.
Isso ainda não fará da China um país ‘desenvolvido’, porque sua renda per capita ainda será baixa em relação a outros, como os EUA, Japão, Alemanha, etc.
De qualquer modo, a China já consome hoje mais energia do que os Estados Unidos.
Mais ainda, as mesmas fontes dizem que a China é um dos países líderes (assim como o Brasil – nota minha) do G-20, “que, desde a crise financeira de 2008, tornou-se o fórum mais importante para a definição de políticas econômicas.” De quebra, leve-se em conta que, se assim não for – isto é – se a China parar de crescer, a Alemanha e a zona do euro afundam de vez, porque a recuperação destas dependem das exportações para o novo gigante asiático.
Vamos passear um pouco agora por algumas das zonas-do-agrião da política internacional. A primeira fica bem perto de casa. Para desagrado de muita gente, Chavez e Santos trocaram gentilezas, ao invés de farpas, e restabeleceram as relações diplomáticas entre os seus países, tudo dentro do âmbito da Unasul. As relações entre Colômbia e Equador devem se regularizar também.
Aliás, recomendo a leitura de artigo assinado por Maurice Lemoine no Le Monde Diplomatique deste mês de Agosto (‘Caracas brûle-t-elle?’ – págs. 12 e 13). O artigo mostra com razoável consistência e informação que o verdadeiro problema na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia é a presença de remanescentes de grupos para-militares colombianos, de extrema-direita, agora vinculados ao narcotráfico, que estendem sua influência ao país vizinho.
E que houve também um intenso deslocamento de narcotraficantes da Colômbia para Caracas. E, lembra o jornalista, em 2004 foram detidos 116 paramilitares colombianos nas proximidades de Caracas, enquanto preparavam uma ação de desestabilização do governo de Chavez, cujo ponto culminante seria o assassinato do presidente.
Outra zona-do-agrião: China e Rússia – que se empenharam pelas sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU (em troca de concessões dos EUA, como no caso da Rússia, que deseja uma distensão no progressivo cerco de seu território promovido pela OTAN) – declararam em alto e bom som que aquelas não vão alterar seu comércio com aquele. A Rússia adiantou que pretende manter a venda de mísseis defensivos para Teerã. O Irã é o maior exportador de pistache do mundo, e grande parte do consumo desse produto nas mesas e aperitivos da União Européia depende das importações que vêm do Irã. Duvido que isso estanque.
Esses são alguns exemplos que ilustram o ponto em que quero chegar. O “dize-me com o que andas…” refere-se ao mundo simbólico que as pessoas e os grupos levam consigo, como se fosse uma espécie de ‘anel de saber’ ao redor de suas mentes, corações e almas. Chegamos assim ao centro do campo, o grande círculo onde as oposições e seu candidato (assessorado por seus arautos na mídia) concebem suas jogadas.
Fico cada vez mais estarrecido diante dessas ‘escaramuças eleitorais’ que as oposições vêm praticando em relação a aspectos da política externa brasileira, pregando de novo um anacrônico alinhamento automático com os Estados Unidos, uma desqualificação dos países sul-americanos vizinhos e de seus governantes, um desprezo pelos países emergentes entre outros fóruns no G-20.
Pensam que vivemos ainda no ‘bom tempo’ em que ‘negócio’ se fazia com os EUA, a Europa e o Japão. Não se trata apenas, vejam bem, de discutir o ‘certo’ e o ‘errado’. Nem mesmo apenas de discutir qual é a conveniência para o Brasil desta ou daquela política, ainda que esses aspectos sejam importantíssimos. Trata-se de perguntar “onde, em que planeta essas pessoas e grupos – as oposições brasileiras – estão vivendo?” Certamente não é o mesmo em que eu e, parece, 80% do povo brasileiro vivemos.
No caso da vitória dessas oposições, das duas uma: ou o retrocesso seria enorme, voltando nós a vivermos mais ou menos lá pelos anos 50, aqueles do governo Dutra, quando o Brasil se alinhou de vez na Guerra Fria – mas assim mesmo por um curto período, rompido de novo no governo de Vargas, ou então os vencedores teriam de dar um abaninho ao povo que os elegeu e fazer ‘outra coisa’.
É melhor não correr esse risco.

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