sexta-feira, 6 de agosto de 2010

DEBATE NA BAND

DO BRASÍLIA CONFIDENCIAL

Serra confunde programas e não explica privatizações

DEBATE2     O primeiro debate entre os presidenciáveis teve, entre suas principais marcas, o desconhecimento revelado por José Serra (PSDB) sobre o programa Luz para Todos e sobre ações do Ministério da Educação para a alfabetização de crianças excepcionais.
     Provocado por Dilma Rousseff (PT) a avaliar os investimentos na indústria naval e os benefícios do Luz para Todos, Serra perguntou duas vezes o nome do programa que está garantindo energia elétrica à população pobre da zona rural. Informado do que se tratava, disse que a iniciativa do Governo Lula era uma continuação do programa Luz no Campo, do Governo Fernando Henrique Cardoso, que levou iluminação a “umas 500.000 famílias”. Dilma o corrigiu:
     “O Luz para Todos é completamente diferente do Luz no Campo, que exigia que os beneficiários do programa pagassem pela iluminação. Por isso, só conseguiram beneficiar 500.000 famílias em 8 anos”, afirmou Dilma, que mostrou o que fez o governo atual.
     “Quando chegamos, o déficit de pessoas sem energia elétrica era de 2 milhões, e agora esse número foi atingido.”
     O segundo engano de Serra foi quando insinuou que as Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) perderam subsídios que o Ministério da Educação dava para o transporte das crianças à escola. Dilma explicou que os recursos da APAE não foram cancelados, mas passaram a ser distribuídos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

PRIVATIZAÇÕES
     Ao comentar como trataria o patrimônio público, Serra evitou detalhar o que fará.
    “Vou valorizar o patrimônio público, usando-o bem”, limitou-se a dizer. Em seguida, afirmou que, apesar das críticas às privatizações do Governo FHC, nada foi reestatizado no Governo Lula.
     “É porque nós respeitamos contratos”, respondeu Dilma, que questionou o tucano sobre outro aspecto do processo de privatizações.
     “Não entendo como pode alguém obter R$ 100 bilhões pela venda do patrimônio público e deixar crescer a dívida pública – de R$ 30 bilhões para R$ 70 bilhões. Como pode essa mágica financeira?” questionou a petista. Serra não respondeu.

EMPREGOS
    Dilma também questionou Serra sobre a forma que ele usaria, se fosse eleito, para assegurar a criação de 14 milhões de empregos com carteira assinada, como ocorreu durante o Governo Lula.
    “Não faço política olhando no retrovisor”, esquivou-se Serra.
     “Não acho prudente que se esqueça o passado”, devolveu a petista acrescentando que o crescimento do emprego se tornou possível, principalmente, pela forte atuação do governo em programas de inclusão social, como o Bolsa Família.

SAÚDE
    Outro ponto de divergência entre Serra e Dilma foi a realização de mutirões da saúde. Para o tucano, são fundamentais. Já Dilma ponderou que eles constituem uma medida de emergência.
    “Mutirão não pode ser nossa característica na política de saúde”, disse Dilma, que citou a ampliação das cirurgias eletivas de catarata na rede pública de saúde. A presidenciável petista também prometeu investir fortemente no Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de acrescentar rapidez e qualidade à rede pública.

INDÚSTRIA NAVAL
    O próprio Serra elogiou o estímulo oferecido pelo Governo Lula à indústria naval, mas pediu mais investimentos. Foi quando Dilma lembrou que o setor estava sucateado e que “a política do governo anterior pra indústria naval era sondar navios de Cingapura e Coréia, em vez de privilegiar a indústria nacional”

Pouco confronto, baixa audiência
Foi um debate truncado, entre uma candidata que tinha algo a perder, um candidato que precisava muito ganhar alguma coisa e dois candidatos que não corriam risco de perder nada. Nem se pode usar o clichê de que o telespectador foi o verdadeiro vencedor do encontro promovido pela Band, que terminou no início da madrugada de hoje. Praticamente não houve telespectador. Segundo o Ibope, a média de audiência ficou em 1,9%, no mesmo horário em que a Globo alcançava 36,9% com o jogo entre São Paulo e Inter pela Libertadores, e a Record mantinha 7,4% com sua programação normal.
    Dilma experimentou a condição de alvo preferencial. Foi atacada por José Serra – em dois momentos de maneira bastante áspera – e por Plínio de Arruda Sampaio, do PSol. Marina Silva manteve um tom mais cordial, com Dilma e com os demais.
   Como candidata que tinha mais a perder, já que, segundo a pesquisa CNT/Sensus divulgada poucas horas antes do debate livrou 10 pontos de vantagem sobre Serra, Dilma assumiu certas precauções: se esforçou para vencer a tensão inicial; na medida do possível, evitou ataques aos demais, apenas fustigando Serra quando enfrentada por ele; e tomou o cuidado de lembrar que coordenou o ministério do Governo Lula.
    Serra chegou ao programa armado de, pelo menos, duas pegadinhas – uma sobre suposta oposição das Apaes ao governo federal e outra sobre a redução dos mutirões da saúde que ele diz ter realizado quando ocupou o ministério. A primeira artimanha parece ter surpreendido Dilma. A segunda, nem tanto. A primeira poderia ter funcionado, não fosse o tom algo demagógico. A segunda foi contestada por Dilma e Plínio: mutirão pode ser útil, mas não é política nacional de saúde pública.
    Com exceção de Plínio, que conseguiu falar com um pouco mais de clareza e brevidade, facilitado pela estratégia de bater na mesma tecla ao longo de todo o debate – “eu sou diferente deles”- os demais candidatos lutaram contra o cronômetro e foram derrotados em várias ocasiões. Deixaram argumentos incompletos e viram seus raciocínios prejudicados pelo gongo que desligava o microfone depois de encerrado o tempo regulamentar para cada resposta.
    Consideradas todas as circunstâncias, não seria surpreendente se Dilma estivesse mais tensa, ninguém estranharia se Serra fosse ainda mais agressivo, não seria estranho de Marina fosse mais ambígua, e Plínio não teria conseguido disfarçar a arrogância de suas declarações.
    No encerramento do debate, Serra tentou apelar para a emoção. Disse que sua filha falou com ele no intervalo e reclamou de que ele esquecera de sorrir. E afirmou que sua meta na presidência será “abrir oportunidades para todos”.
    Dilma usou o tempo final para lembrar que a coordenação do Governo Lula foi a experiência mais vigorosa e importante de sua vida.
    “Foi a realização do sonho de muitas gerações. Quebramos barreiras intransponíveis. O povo teve oportunidade no seu próprio país. Participar desta mudança me tornou uma pessoa muito melhor”.

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