quinta-feira, 26 de maio de 2011

O futuro da Igreja Católica

Do Adital.org
Leonardo Boff: ‘O futuro da Igreja Católica está na África e na América Latina’

Telesur
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Adital
Tradução: ADITAL
O futuro da Igreja Católica está em países emergentes, como os latino-americanos.
Boff afirma que a Igreja vai, mais e mais, entrar em crise e diminuir.
"Creio que os pontos sombrios, mais negativos de João Paulo II foi ter perseguido a única teologia dos pobres que nasceu na periferia do império na periferia das igrejas”.
O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmou, no sábado, que para garantir a sobrevivência da Igreja Católica no futuro, esta deve centrar-se nos países emergentes, como os localizados no continente latino-americano, uma vez que nessas nações vivem mais de 50% das pessoas que, hoje em dia, seguem essa doutrina religiosa.
Em uma entrevista com Telesul, Boff indicou que "temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja católica hoje é uma igreja do terceiro mundo, que teve raízes no primeiro mundo; por isso, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina, que garanta um futuro de mais esperança”.
Leia a entrevista na íntegra:

Você é um dos teólogos que afirma ter sido castigado durante o pontificado de João Paulo II, beatificado no dia 1º de Maio. Poderia nos explicar como foi esse castigo e qual foi a justificação dessa ação contra sua pessoa por parte da Igreja?
Boff: Na verdade, foi o cardeal Ratzinger, que hoje é Papa, e com o apoio de João Paulo II, quem me impuseram um silêncio obsequioso, não falar, não viajar, não escrever, porque eu defendia a Teologia da Libertação e para o Papa João Paulo II, a Teologia da Libertação era uma espécie de Cavalo de Troia, mediante o qual o comunismo e o marxismo poderiam entrar e como ele pretendia saber tudo, por amor ao povo nos condenou; isto é, ‘se o comunismo e o marxismo entram, a Igreja será perseguida e, então, deve-se controlar essa teologia e impedir que tenha influência sobre a sociedade latino-americana'.
Segundo nos conta, foi condenado a um silêncio, em 1985, por suas teses sobre a Teologia da Libertação e, depois, em 1992, uma vez mais foi ameaçado, o que fez com que deixasse a ordem franciscana. O que significa ter sido perseguido como teólogo?
B: Quando o cardeal de São Paulo, que foi meu professor, Dom Paulo Evaristo Arns disse ao Papa, ‘santidade, o senhor condenou um discípulo meu ao silêncio como os militares no Brasil fizeram com os jornalistas'; e o Papa disse, ‘eu, como os militares, absolutamente; libertem a Boff'. E, efetivamente, um ano depois, fui liberado; e continuei meu trabalho, enquanto acontecia a ECO 92, a grande reunião ecológica no Rio de Janeiro; eu fiz uma palestra junto com outros sobre o monoteísmo como uma religião de guerra, cristãos, judeus, muçulmanos conduzem guerras.
Então, o cardeal Baggio, que escutou a palestra disse, ‘tu, Boff, não aprendeste nada com o silêncio, tens que sair da América Latina e ir para as Filipinas ou para a Coreia onde há franciscanos e trabalhar'. Eu disse, ‘posso ir e posso falar, ensinar; não ficar em silêncio'; ‘na primeira vez fui humilde, aceitei; agora é uma humilhação; humilhação é pecado; eu não aceito e aí não restou outra alternativa que sair do estado eclesiástico'.
Atualmente, o Papa Bento XVI promulgou o decreto que reconhece um milagre a João Paulo II: a cura inexplicável para a ciência da religiosa francesa Marie Simon Pierre, que padecia de mal de Parkinson, a mesma enfermidade que o Papa João Paulo II sofria. Qual sua opinião sobre isso? O senhor está de acordo?
B: Eu creio que ese milagre provocou uma grande discussão na comunidade teológica porque quando temos a visão quântica da realidade, isto é, que continuamente emerge novidades e aparecem coisas diferentes da realidade, é difícil definir o que é um milagre.
Não estou contra a beatificação porque é uma decisão do Papa; porém, as razões pelas quais querem beatificá-lo são muito complexas e muito contraditórias porque esse Papa tinha duas dimensões: uma voltada para fora como um grande carismático, um grande artista, que mobilizava milhões de pessoas; e, outra, para dentro, que conduzia a Igreja com mãos de ferro, controlando a todos, criando um catecismo, um direito canônico, uma só doutrina mediante a qual enquadrou mais de 140 teólogos e foi muito duro.
Tentou recuperar uma imagem mais conservadora da Igreja na linha da grande visão medieval. Então, essa contradição faz com que ele seja um ponto de referência, que é o sentido de um ser beato, um santo para toda a Igreja; para um tipo de Igreja mais conservadora, mais fechada, mais voltada para dentro de si mesma.
Além disso, a causa foi abeta por desejo de Bento CVI, sem esperar que transcorressem cinco anos da morte de João Paulo II, como estabelece o Código de Direito Canônico. Em sua opinião, qual é o motivo dessa pressa?
B: Na realidade, não há motivos porque segundo o direito canônico, o Papa tem direitos divinos, poder absoluto, universal sobre cada um, sobre toda a Igreja.
No fundo, ele pode fazer o que quiser e tem mostrado isso; então, não seguiu os trâmites normais; era um grande admirador e colaborador do Papa e quis exaltá-lo; e como esse Papa atual conduz esse modelo de Igreja e eu diria, de maneira ainda mais radical do que antes, mais conservador, mais em polêmica com a realidade; então quer uma especie de avalista, um que justifique essa posição e a figura mais importante disso é exatamente João Paulo II.
João Paulo II esteve três vezes no Brasil e foi responsável pela nomeação da maior parte dos bispos que hoje ocupam as dioceses brasileiras. Fala-se que o conservadorismo se impôs. O senhor está de acordo?
B: Seguindo esse curso, a Igreja irá, mais e mais, entrar em crise e diminuir; é uma igreja em agonia na Europa e temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja Católica hoje é uma igreja do terceiro mundo que tem raízes no primeiro mundo; então, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina; que garanta um futuro de mais esperança; um futuro promissor para toda a cristandade.
O que aconteceu com a linha progressista, tão popular no Brasil nos anos 70, com a interferência do papa João Paulo II e do atual Papa Bento XVI? Continua ativa? Como vê o futuro da Igreja Católica no Brasil e na América latina?
B: Veja bem, u sou um teólogo católico, franciscano, um animador cultural porque por todas as partes onde ando tento articular o discurso da ecologia, da salvaguarda da vida, do planeta com o discurso da fé, da espiritualidade; isso é o que eu faço, sublinhando três dimensões: trabalhar nas bases com os sem terra, com comunidades de base, estudar e fazer investigações e escrever e dar palestras e aulas no Brasil, na América latina e no mundo; é uma espécie de missão e cátedra que tenho para levar adiante o sonho de Jesus, que é um sonho bom e que, muitas vezes, não é o sonho da igreja católica.
Creio que os pontos sombrios, mais negativos de João Paulo II foi ter perseguido a única teologia dos pobres que nasceu na periferia do império na periferia das igrejas e condenou aos teólogos à teoria e decepcionou os pobres e muitos pobres dizem ‘o papa constrói onde estão os opressores; é amigo de Pinochet; é amigo de Reagan; não constrói aqui no canteiro onde nós trabalhamos; ele nunca apoiou as lutas, as organizações dos pobres; era para os pobres, mas nunca a partir da perspectiva dos pobres e com os pobres'.
O senhor é um renomado escritor que trata temas sobre teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. Se casou. Qual é sua religião hoje?
B: à minha maneira, sinto-me membro da Igreja católica; tento viver com radicalidade uma espiritualidade dos pobres, da simplicidade e tomar como referência não tanto a doutrina, os documentos oficiais, mas os evangelhos, ou melhor, a prática de Jesus, que foi uma prática libertadora.

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