segunda-feira, 30 de maio de 2011

Presidenta Dilma e seus compromissos

Do Tijolaço


Hoje, no programa “Café com a Presidenta”, Dilma reafirmou seu compromisso com a educação infantil, anunciando a construção de 10 mil quadras esportivas cobertas e 6 mil creches até 2014. E divulgou a ideia, apresentada semana passada de fazer da bicicleta o meio de transporte dos estudantes das escolas públicas em todo o país. A construção das creches representará um aumento das vagas para as crianças e visa combater as desigualdades em todo o país. “É uma oportunidade para a mulher trabalhar enquanto os seus filhos estão ali tranquilos na creche. Por outro lado, uma boa equipe de professores, psicólogos, nutricionistas garante igualdade de atendimento. Damos a esses brasileirinhos e a essas brasileirinhas, que precisam da rede pública, a possibilidade de crescer nas mesmas condições de crianças que estão em escolas particulares. E isso vai refletir em todo seu desenvolvimento, como jovem e como adulto”.
Já que a Presidenta falou das bicicletas, que muita gente acha que é só lazer, aproveito para lembrar de duas coisas que publiquei aqui.
Uma, que Brizola, já no final dos anos 50, abriu uma linha de crédito na Caixa Econômica Estadual gaúcha para que os operários pudessem comprar bicicletas para se deslocar até o trabalho.
Outra, que o Brasil precisa urgentemente desenvolver tecnologia e indústrias para produzir as e-bikes , bicicletas elétricas que são uma alternativa barata, simples, segura e popularíssima de transporte motorizado,que está bombando na China, onde se produzem, todo ano, mais de 25 milhões de unidades destes veículos, três vezes mais que a produção de veículos daquele país. É uma alternativa para o gigantesco crescimento da frota de motocicletas, mais cara,s mais poluentes e, sobretudo, mais perigosas.

domingo, 29 de maio de 2011

Desconstruir os predadores

Via Escrevinhador

Milton Temer: Carta Aberta aos petistas

publicada sexta-feira, 27/05/2011 
por Milton Temer *, no Correio da Cidadania, via Blog da Maria Frô

Com a legitimidade de quem cumpriu dois mandatos de deputado federal; e de quem por duas vezes disputou a presidência, representando os segmentos mais combativos e identificados com o programa socialista, é que me considero na obrigação de me dirigir aos militantes e alguns dirigentes do Partido dos Trabalhadores.
Embora seja fundador do PSOL, não considero possível qualquer possibilidade de êxito de nossos movimentos táticos, conjugados com os objetivos estratégicos de transformação qualitativa da sociedade brasileira, sem a participação, e até parceria ativa, dos segmentos sociais que hoje se representam no PT.

Nesse contexto, diante do que se registrou nas eleições municipais e autônomas na Espanha, e dos caminhos que vêm tomando o governo Dilma, acho que tenho condições de entrar no debate da militância petista.

É verdade que a direita brasileira nem se aproxima, organicamente, da competência da direita franquista espanhola. A de lá, gerada no combate militar e ideológico contra a república popular, criou raízes sólidas durante as décadas da ditadura de Franco. A de cá, tão perversa quanto a de lá, foi matreira o suficiente para se impor sem tantos traumas, a partir da doação das capitanias, passando pelo período de controle da família real portuguesa e mantendo a hegemonia patrimonialista durante quase todo o período da história republicana. Por isso, nunca teve preocupação com mobilização militante.

E o quadro não mudou com a chegada ao poder de quem, previsivelmente, tinha por meta uma transformação qualitativa da estrutura social do país. Pelo contrário. Como o próprio ex-presidente Lula afirmou em uma de suas últimas conferências, nunca o grande capital, principalmente o financeiro, acumulou tanto lucro em tão pouco espaço de tempo quanto durante seu período de governo.

Pois é justamente por aí que a porca pode torcer o rabo. Se, nos mandatos de Lula, as concessões aos maganos foram neutralizadas por um brutal programa assistencialista de distribuição de rendas mínimas – o que fez passar ao PT boa parte da base eleitoral antes controlada pela velha direita -, o de Dilma, da forma como vem sendo encaminhado, pode não ter os mesmos instrumentos de persuasão.

Os anúncios de privatização em áreas estratégicas, cortes orçamentários que só abrem exceção para os incessantemente crescentes serviços da dívida pública, na esteira da manutenção da apavorante política de juros sobre títulos da dívida pública, são fatos incontestáveis de que nada se faz diferentemente do que faria um governo PSDB-PFL, seus derivados e/ou PMDB. Ou alguém ainda tem dúvida de que este último comporia qualquer governo?

É aí que vale uma pequena reflexão sobre a acachapante derrota do PSOE diante da direita franquista nas últimas eleições locais da Espanha, como necessidade de discussão sobre o nosso processo.

O que levou a banda de Zapatero a perder milhões de votos em relação ao último pleito, justamente num momento em que a juventude ocupava as ruas para protestar contra a política de austeridade e de corte de despesas públicas que levou o país a um recorde de desempregos? Sem nenhuma dúvida, “a economia, estúpido!”, para citar um culto e bem sucedido marqueteiro de campanhas presidenciais norte-americanas.
A economia levou o eleitorado, outrora simpático ao reformismo moderado do PSOE, a votar no original, desprezando o clone, na medida em que os socialdemocratas deixaram de ser até moderadamente reformistas, para se transformarem em agentes dos modelos neoliberais mais extremados. Desse modelo que levou os jovens às ruas. Nesse sentido, seus simpatizantes, ou se abstiveram (porque os índices de abstenção elevados se concentraram evidentemente nesses eleitores, e não nos da direita mobilizada), ou transferiram seus votos da cópia para o original, como forma de punição.

Embarcar de forma incondicional na defesa das propostas de Dilma, elaboradas por Palocci, o enfant gaté do grande capital internacional e seus cúmplices locais, pode levar o PT, no Brasil, para o mesmo destino. A forma obstinada com que as lideranças partidárias correm a blindar o referido, diante dos fortes indícios dos últimos ilícitos, concorre para a equiparação aos partidos sem identidade – cujo último produto é esse PSD, que não é de direita, não é de esquerda, nem é de centro. E que os próceres petistas vêm prestigiando, sem parecer se dar conta de que a legenda não é de nada, para ser de qualquer governo. Igualando todos na mesma simbologia.
Se o PT se embaraçar definitivamente no pragmatismo em que mergulhou após Lula chegar ao Planalto, por conta de conjuntural apoio popular – e não estrutural -, a direita reacionária brasileira não precisará de outro golpe militar para voltar ao poder.

Nós do PSOL não queremos isso. Temos diferenças e divergências com o PT em função de idéias que passou a defender. Mas não temos as diferenças de valores que nos separam da velha e autoritária direita patrimonialista. Apostamos que novos tempos podem trazer novas realidades, em que a esquerda combativa se reagrupe, sem abrir mão de suas identidades e concepções sobre os caminhos de uma nova sociedade. Mas acreditando que, na desconstrução do predatório regime capitalista, temos muitos passos e muitos combates a dar, em comum.

*Milton Temer (não confundir com Michel, o peemedebista, vice de Dilma) é jornalista e foi deputado federal pelo PT-RJ de 1995 a 2002; hoje, está no PSOL.
Leia outros textos de Outras Palavras

sábado, 28 de maio de 2011

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais

Do Vi o mundo

Frei Betto: A Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero

Os gays e a Bíblia
por Frei Betto, em Amai-vos
É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”…).
Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.
A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama…).
Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados.  A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Aprofundando cada vez mais a nossa consciência ecológica.

Via blog do Noblat

Uma nova ciência: Análise do Ciclo de Vida (ACV)

Leonardo Boff
A busca de um bem viver mais generalizado e o cuidado para com a situação global da Terra está aprofundando cada vez mais a nossa consciência ecológica. Agora se impõe analisar o rastro de carbono, de toxinas, de químicas pesadas, presentes nos produtos industriais que usamos no nosso dia-a-dia.
Desta preocupação está nascendo uma verdadeira ciência nova que vem sob o nome de ACV: Análise do Ciclo de Vida. Monitoram-se os impactos sobre a biosfera, sobre a sociedade e sobre a saúde em cada etapa do produto, começando pela sua extração, sua produção, sua distribuição, seu consumo e seu descarte.
Demos um exemplo: na confecção de um vaso de vidro de um kg entram, espantosamente, 659 ingredientes diferentes nas várias etapas até a sua produção final. Quais deles nos são prejudiciais?
A Análise do Ciclo de Vida visa a identificá-los. Ela se aplica também aos produtos ditos verdes ou ecologicamente limpos. A maioria é apenas verde no fim ou limpos só na sua utilização terminal como é o caso do etanol.
Sendo realistas, devemos admitir que toda a produção industrial deixa sempre um rastro de toxinas, por mínimo que seja. Nada é totalmente verde ou limpo. Apenas relativamente ecoamigável.
Isso nos foi detalhado por Daniel Goleman, com seu recente livro Inteligência ecológica (Campus 2009).
O ideal seria que em cada produto, junto com a referência de seus nutrientes, gorduras e vitaminas, deveria haver a indicação dos impactos negativos sobre a saúde, a sociedade e o ambiente. Isso vem sendo feito nos EUA por uma instituição Good Guide, acessível pelo celular, que estabelece uma tríplice qualificação: verde, para produtos relativamente puros, amarelo se contém elementos prejudiciais mas não graves, e vermelho, desaconselhável por seu rastro ecológico negativo.
Agora se inverteram os papéis: não é mais o vendedor mas o comprador que estabelece os critérios para a compra ou para o consumo de determinado produto.
O modo de produção está mudando e nosso cérebro não teve tempo suficiente ainda acompanhar essa transformação. Ele possui uma espécie de radar interno que nos avisa quando ameaças e perigos se avizinham. Os cheiros, as cores, os gostos e os sons nos advertem se os produtos estão estragados ou se são saudáveis, se um animal nos ataca ou não.
Ocorre que o nosso cérebro não registra ainda mudanças ecológicas sutis, nem detecta partículas químicas disseminadas no ar e que nos podem envenenar. Introduzimos já 104 mil compostos químicos artificiais pela biotecnologia e pela nanotecnologia.
Com o recurso da Análise do Ciclo de Vida constatamos o quanto estas substâncias químicas sintéticas, por exemplo, fazem diminuir o numero de espermatozóides masculinos a ponto de gerar infertilidade em milhões de homens.
Não se pode continuar dizendo: as mudanças ecológicas só serão boas se não afetarem os custos e os rendimentos. Esta mentalidade é atrasada e alienada pois não se dá conta das mudanças havidas na consciência.
O mantra das novas empresas é agora: ”quanto mais sustentável, melhor; quanto mais saudável, melhor; quanto mais ecoamigável, melhor”.
A inteligência ecológica se acrescentará a outros tipos de inteligência, esta agora mais necessária do que nunca
(Veja do autor o livro Proteger o planeta, cuidar da Terra, Record 2010).

Leonardo Boff é teólogo e filósofo

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O futuro da Igreja Católica

Do Adital.org
Leonardo Boff: ‘O futuro da Igreja Católica está na África e na América Latina’

Telesur
Canal informativo cem por cento latinoamericano que, desde 2005, é referência comunicacional de Nossa América para o mundo - http://www.telesurtv.net
Adital
Tradução: ADITAL
O futuro da Igreja Católica está em países emergentes, como os latino-americanos.
Boff afirma que a Igreja vai, mais e mais, entrar em crise e diminuir.
"Creio que os pontos sombrios, mais negativos de João Paulo II foi ter perseguido a única teologia dos pobres que nasceu na periferia do império na periferia das igrejas”.
O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmou, no sábado, que para garantir a sobrevivência da Igreja Católica no futuro, esta deve centrar-se nos países emergentes, como os localizados no continente latino-americano, uma vez que nessas nações vivem mais de 50% das pessoas que, hoje em dia, seguem essa doutrina religiosa.
Em uma entrevista com Telesul, Boff indicou que "temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja católica hoje é uma igreja do terceiro mundo, que teve raízes no primeiro mundo; por isso, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina, que garanta um futuro de mais esperança”.
Leia a entrevista na íntegra:

Você é um dos teólogos que afirma ter sido castigado durante o pontificado de João Paulo II, beatificado no dia 1º de Maio. Poderia nos explicar como foi esse castigo e qual foi a justificação dessa ação contra sua pessoa por parte da Igreja?
Boff: Na verdade, foi o cardeal Ratzinger, que hoje é Papa, e com o apoio de João Paulo II, quem me impuseram um silêncio obsequioso, não falar, não viajar, não escrever, porque eu defendia a Teologia da Libertação e para o Papa João Paulo II, a Teologia da Libertação era uma espécie de Cavalo de Troia, mediante o qual o comunismo e o marxismo poderiam entrar e como ele pretendia saber tudo, por amor ao povo nos condenou; isto é, ‘se o comunismo e o marxismo entram, a Igreja será perseguida e, então, deve-se controlar essa teologia e impedir que tenha influência sobre a sociedade latino-americana'.
Segundo nos conta, foi condenado a um silêncio, em 1985, por suas teses sobre a Teologia da Libertação e, depois, em 1992, uma vez mais foi ameaçado, o que fez com que deixasse a ordem franciscana. O que significa ter sido perseguido como teólogo?
B: Quando o cardeal de São Paulo, que foi meu professor, Dom Paulo Evaristo Arns disse ao Papa, ‘santidade, o senhor condenou um discípulo meu ao silêncio como os militares no Brasil fizeram com os jornalistas'; e o Papa disse, ‘eu, como os militares, absolutamente; libertem a Boff'. E, efetivamente, um ano depois, fui liberado; e continuei meu trabalho, enquanto acontecia a ECO 92, a grande reunião ecológica no Rio de Janeiro; eu fiz uma palestra junto com outros sobre o monoteísmo como uma religião de guerra, cristãos, judeus, muçulmanos conduzem guerras.
Então, o cardeal Baggio, que escutou a palestra disse, ‘tu, Boff, não aprendeste nada com o silêncio, tens que sair da América Latina e ir para as Filipinas ou para a Coreia onde há franciscanos e trabalhar'. Eu disse, ‘posso ir e posso falar, ensinar; não ficar em silêncio'; ‘na primeira vez fui humilde, aceitei; agora é uma humilhação; humilhação é pecado; eu não aceito e aí não restou outra alternativa que sair do estado eclesiástico'.
Atualmente, o Papa Bento XVI promulgou o decreto que reconhece um milagre a João Paulo II: a cura inexplicável para a ciência da religiosa francesa Marie Simon Pierre, que padecia de mal de Parkinson, a mesma enfermidade que o Papa João Paulo II sofria. Qual sua opinião sobre isso? O senhor está de acordo?
B: Eu creio que ese milagre provocou uma grande discussão na comunidade teológica porque quando temos a visão quântica da realidade, isto é, que continuamente emerge novidades e aparecem coisas diferentes da realidade, é difícil definir o que é um milagre.
Não estou contra a beatificação porque é uma decisão do Papa; porém, as razões pelas quais querem beatificá-lo são muito complexas e muito contraditórias porque esse Papa tinha duas dimensões: uma voltada para fora como um grande carismático, um grande artista, que mobilizava milhões de pessoas; e, outra, para dentro, que conduzia a Igreja com mãos de ferro, controlando a todos, criando um catecismo, um direito canônico, uma só doutrina mediante a qual enquadrou mais de 140 teólogos e foi muito duro.
Tentou recuperar uma imagem mais conservadora da Igreja na linha da grande visão medieval. Então, essa contradição faz com que ele seja um ponto de referência, que é o sentido de um ser beato, um santo para toda a Igreja; para um tipo de Igreja mais conservadora, mais fechada, mais voltada para dentro de si mesma.
Além disso, a causa foi abeta por desejo de Bento CVI, sem esperar que transcorressem cinco anos da morte de João Paulo II, como estabelece o Código de Direito Canônico. Em sua opinião, qual é o motivo dessa pressa?
B: Na realidade, não há motivos porque segundo o direito canônico, o Papa tem direitos divinos, poder absoluto, universal sobre cada um, sobre toda a Igreja.
No fundo, ele pode fazer o que quiser e tem mostrado isso; então, não seguiu os trâmites normais; era um grande admirador e colaborador do Papa e quis exaltá-lo; e como esse Papa atual conduz esse modelo de Igreja e eu diria, de maneira ainda mais radical do que antes, mais conservador, mais em polêmica com a realidade; então quer uma especie de avalista, um que justifique essa posição e a figura mais importante disso é exatamente João Paulo II.
João Paulo II esteve três vezes no Brasil e foi responsável pela nomeação da maior parte dos bispos que hoje ocupam as dioceses brasileiras. Fala-se que o conservadorismo se impôs. O senhor está de acordo?
B: Seguindo esse curso, a Igreja irá, mais e mais, entrar em crise e diminuir; é uma igreja em agonia na Europa e temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja Católica hoje é uma igreja do terceiro mundo que tem raízes no primeiro mundo; então, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina; que garanta um futuro de mais esperança; um futuro promissor para toda a cristandade.
O que aconteceu com a linha progressista, tão popular no Brasil nos anos 70, com a interferência do papa João Paulo II e do atual Papa Bento XVI? Continua ativa? Como vê o futuro da Igreja Católica no Brasil e na América latina?
B: Veja bem, u sou um teólogo católico, franciscano, um animador cultural porque por todas as partes onde ando tento articular o discurso da ecologia, da salvaguarda da vida, do planeta com o discurso da fé, da espiritualidade; isso é o que eu faço, sublinhando três dimensões: trabalhar nas bases com os sem terra, com comunidades de base, estudar e fazer investigações e escrever e dar palestras e aulas no Brasil, na América latina e no mundo; é uma espécie de missão e cátedra que tenho para levar adiante o sonho de Jesus, que é um sonho bom e que, muitas vezes, não é o sonho da igreja católica.
Creio que os pontos sombrios, mais negativos de João Paulo II foi ter perseguido a única teologia dos pobres que nasceu na periferia do império na periferia das igrejas e condenou aos teólogos à teoria e decepcionou os pobres e muitos pobres dizem ‘o papa constrói onde estão os opressores; é amigo de Pinochet; é amigo de Reagan; não constrói aqui no canteiro onde nós trabalhamos; ele nunca apoiou as lutas, as organizações dos pobres; era para os pobres, mas nunca a partir da perspectiva dos pobres e com os pobres'.
O senhor é um renomado escritor que trata temas sobre teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. Se casou. Qual é sua religião hoje?
B: à minha maneira, sinto-me membro da Igreja católica; tento viver com radicalidade uma espiritualidade dos pobres, da simplicidade e tomar como referência não tanto a doutrina, os documentos oficiais, mas os evangelhos, ou melhor, a prática de Jesus, que foi uma prática libertadora.

Indignação seletiva da mídia nativa

Do Vi o mundo

Urariano Motta e o dicionário das empregadas domésticas

por Urariano Motta, em Direto da Redação
Nos últimos dias, na gente mais educada causou espécie, para não dizer causou urticária, o livro didático  “Por uma vida melhor”, que ensinaria a falar errado. No entanto, ninguém se levantou, nem perdeu a paz de espírito, quando um ilustre desembargador, faz alguns anos,  achou por bem escrever um dicionário para as empregadas domésticas. É fato.
Atropelos e apelos de títulos não faltaram ao ilustre dicionarista. Erudito em Direito Civil, filiado à Associação Paulista dos Magistrados, escritor de verve, ele assim gracejou em artigo no  jornal dos seus pares:
“Ele  ligou para sua  própria  casa. A  empregada era nova. Ele não a conhecia. Sua mulher, a Esther, digo (ou ele  diz), dona Esther, tinha  acabado  de contratar. A moça era do norte. De Garanhuns. Nada contra, mas….sabe como é. Nós, brasileiros, sabemos! O patrão morava num  sobrado. O telefone da residência ficava num nicho, embaixo da escada. No décimo segundo toque a Adamacena, a tal da empregada, atendeu: ‘Alonso!’ Na dúvida, o dono da casa perguntou: ‘De  onde falam?’ Ao que a Adamacena respondeu: ‘Debaixo da escada!’ Foi aí que ele começou a catalogar as expressões da serviçal…”
Na continuação do texto, para melhor diálogo com as inferiores, o preclaro e excelso organizou este pequeno dicionário das empregadas, para ser lido pelas classes cultas, do  gênero e classe dele no Brasil:
Denduforno – dentro do forno
Dôdistongo – dor de estômago
Doidimai – doido demais
Dôsitamu – dor de estômago
Gáscabô o gás acabou
Iscodidente – escova de ente
Issokipómoiá – isto aqui pode molhar
Ládoncovim — lá de onde que eu vim
Lidialcom – litro de álcool
Lidileite – litro de leite
Mardufigo – mal do fígado
Mastumate – massa de tomate
Nossinhora – nossa senhora
Óikichero – olha que cheiro
Óiprocevê – olha pra você ver
Óiuchêro – olha o cheiro
Oncotô onde que eu estou
Onquié – onde que é
Onquitá – onde está
Etc. etc. etc. poderia ser a leitura geral das “palavras” coligidas pelo senhor dicionarista. Se ele fosse um homem culto de facto, e não um culto de fato, fato da toga que um dia vestiu,  saberia que as diversas falas de uma língua não significam uma superioridade cultural, civilizacional,  de uma fala sobre a outra. Ora, as pessoas que vêm do interior do Nordeste, e é a elas que a sua brincadeira de mau gosto se referiu, os brutos migrantes dos sertões nordestinos carregavam, além da miséria, uma gramática que é uma história da língua. Quando eles dizem “figo”, em lugar de “fígado”, ou “hay”, em lugar de “há”, ou “in riba”, em lugar de “em cima”, ou mesmo “joga no mato”, por “deixa fora, joga fora”, essas palavras, esses modos e conteúdos de fala não nasceram de uma carne, sangue e lugar inferiores.
Esses cortes de sílabas, esse “denduforno” em lugar de “dentro do forno”, esse corte de fonemas na fala de todos os dias, essa aglutinação é um procedimento comum em todas as falas, do Norte ao Sul do mundo, do Leste ao Oeste do planeta, em todas as classes e gentes e tempos. Diz-se até que é uma obediência à lei do menor esforço. Quem é bom de ouvido sabe que a última sílaba de uma palavra em uma frase não se ouve, adivinha-se pelo sentido. Um “Como vai de saúde?”, sai quase como um “Como vai de saú?”. Se os ingleses transformam consoantes de palavras em vogais, bravo, isso é mesmo um fenômeno linguístico. Se os norte-americanos pegam os tês e põem em seu lugar erres, isso só pode mesmo ser inglês moderno. Bravo.
No Brasil, na região que move a economia, quando um paulista insiste em pronunciar “record” à inglesa, mas com erres à brasileira, ou quando pronuncia “meni”, em lugar de “menu”, está apenas no exercício da sua cultura poliglota. Aplausos. Quando ele, no bar, pede um só, mas ainda assim pede “um chopes”, é uma graça. Viva. Mas um “oxente”, um “arretado”, que traem e trazem a marca da fala de nordestinos, desses baianos, desses nortistas, ah, isto só pode mesmo ser uma prova insofismável de subdesenvolvimento.
Isso comentamos à margem, do texto do léxico das empregadas e da grande mídia. Mas o pequeno dicionário para as empregadinhas não sofreu qualquer indignação patriótica, lembramos bem. Faz sentido, enfim. Como dizia Marx, ao lembrar as diferentes traduções de classe, os proletários se embriagam no bar, os burgueses vão ao club.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

BEATIFICAÇÃO DE IRMÃ DULCE

Do blog do Planalto, por e-mail

Posted: 22 May 2011
Em Salvador, presidenta Dilma Rousseff, o presidente do Senado, José Sarney, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, participam da cerimônia de beatificação da irmã Dulce. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Com a presença de cerca de 70 mil fieis, a presidenta Dilma Rousseff participou, neste domingo (22/5), em Salvador (BA), da missa de beatificação de Irmã Dulce, presidida pelo cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, representando o Papa Bento XVI. Com esta decisão, Irmã Dulce passou a se chamar “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”.
O título de “beato” ou “bem-aventurado” é concedido pelo Papa a quem viveu e praticou, segundo o Vaticano, “as virtudes cristãs em grau heroico, sendo sua trajetória um modelo de virtude para a vida cristã”.
A beatificação de Irmã Dulce é parte do processo de canonização da missionária brasileira, iniciado em janeiro de 2000. Em abril de 2009, com a aprovação do Positio, documento que reconhece as virtudes da postulante, Irmã Dulce foi declarada “venerável”, primeira etapa da beatificação.
Em outubro de 2010, ocorreu o reconhecimento de um milagre atribuído à Irmã Dulce, última etapa do processo de beatificação. Este milagre teria ocorrido em janeiro de 2001, quando uma devota de Irmã Dulce entrou em coma em decorrência de hemorragia durante o parto. Um sacerdote que sabia da fé da mulher na missionária teria orado pedindo por sua saúde e, em questão de horas, ela teria se recuperado completamente.
Em dezembro de 2010, o Papa Bento XVI autorizou a promulgação do decreto do milagre que transforma a Venerável Dulce em Beata. Se comprovado um milagre adicional atribuído à intercessão da Beata Dulce, seu processo de santificação terá sequencia.

Biografia – Irmã Dulce, como ficou conhecida a missionária Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador (BA), e faleceu aos 77 anos, em 13 de março de 1992.
Em 1933, após formar-se professora, entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, Sergipe. Em 15 de agosto de 1934, foi ordenada freira, recebendo o nome de Irmã Dulce em homenagem à sua mãe.
Indicada para lecionar em colégio no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, iniciou, em 1935, a assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas no bairro de Itapagipe. Por este trabalho a imprensa passou a chamá-la de Anjo dos Alagados.
Fundou, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica da Bahia – e, em 1937, o Círculo Operário da Bahia. Em 1939, inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola para operários e filhos de operários, em Massaranduba.
Em 1959, fundou a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), entidade cujo trabalho a tornou conhecida nacionalmente. Esta associação nasceu em torno do Hospital Santo Antônio, criado em 1949 como um albergue, quando Irmã Dulce improvisou um abrigo no galinheiro do seu convento para 70 doentes que estavam nas ruas de Salvador.
Em 1988 foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney – com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia – para o Prêmio Nobel da Paz.