sábado, 19 de janeiro de 2013

Os bons propósitos da velha mídia são tão verdadeiros quanto os de Pedro Malasartes,

Via Portal Nassif


As Oposições e suas Batalhas, por Marcos Coimbra

Da CartaCapital
As Oposições e suas Batalhas
Marcos Coimbra
2013 mal começou e a nova batalha das oposições, partidárias e extraparlamentares, já está em pleno andamento. Se a primeira quinzena de janeiro transcorreu assim, imagine-se o restante do ano.
É fácil perceber o que as move e aonde pretendem chegar.
A espetacularização do julgamento do “mensalão” foi feita com o único objetivo de desconstruir a imagem do PT no plano moral. O que buscavam era marcar o partido e suas principais lideranças com o estigma da corrupção, a fim de erodir suas bases na sociedade.
Só quem acredita em histórias da carochinha levou a sério a versão de que a imprensa oposicionista tinha o desejo sincero de renovar nossos costumes políticos e promovera “limpeza das instituições”. Seus bons propósitos são tão  verdadeiros quanto os de Pedro Malasartes, personagem de nosso folclore famoso pelo cinismo e a falta de escrúpulos.
Por maiores que tenham sido seus esforços, obtiveram, no entanto, sucesso apenas parcial na empreitada, como vimos quando as urnas da eleição municipal foram abertas. Os resultados nacionais e algumas vitórias, como a de Fernando Haddad, em São Paulo, mostraram que os prejuízos sofridos pelo PT em decorrência do julgamento ficaram bem aquém do que calculavam.
Essa frustração as levou ao ponto em que estão hoje. De um lado, a insistir no moralismo e na tentativa de transformar o “mensalão” em assunto permanente da agenda nacional. Querem forçar o País a continuar a debatê-lo indefinidamente, como se tivesse a importância de temas como a democracia, o desenvolvimento econômico, o meio ambiente e a educação.
De outro, a diversificar os ataques, assestando as baterias em direção a novos alvos, procurando atingir a imagem administrativa da presidenta e do governo Dilma. Por extensão, de todo o PT. 
Não chega a ser um projeto original. Nas disputas politicas, nenhuma novidade há em acusar os adversários, simultaneamente, de corrupção e incompetência. Em dizer que, além de se apropriar de recursos públicos, não sabem governar, e que não há, portanto, qualquer razão para apoiá-los, sequer o argumento do “rouba, mas faz”. Neste início de ano, o discurso das oposições, em especial da armada midiática, é afirmar que o PT rouba e não faz.
Atravessamos os primeiros quinze dias de 2013 como se vivêssemos uma crise gravíssima e difusa, como se o Brasil estivesse na iminência da paralisia total. Quem acompanhou o noticiário só ouviu falar em problemas, gargalos e decepções.
É o inverso do que ela costuma fazer em janeiro, quando a maioria de seus leitores está de férias e pensa em outras coisas. Ao invés das habituais reportagens amenas sobre a Musa do Verão e os preparativos para o Carnaval, tudo que publicam tem tom catastrófico. Os mais radicais não escondem a satisfação com o fraco desempenho do PIB em 2012 e os problemas de abastecimento elétrico em diversas regiões. Ficaram algo tristes com a modestas tragédias naturais do começo do ano. Por enquanto, o que lhes resta é torcer por calamidades espetaculares.
“Pibinho”, crise de gestão, apagão, desindustrialização, inflação, desemprego, falta de ar refrigerado no Santos Dumont, a disparada no preço do tomate, tudo vai mal no Brasil, segundo a mídia oposicionista. Por culpa de Lula, que “não soube aproveitar a sorte” e “desperdiçou a herança de FHC”, e de Dilma, que é “centralizadora”, “estatista” e “antiquada”. Batem em tudo que veem e, se não veem, inventam. Nos últimos dias, até o Bolsa-Família entrou na linha de mira dos “grandes jornais”. Sem falar na raiva contra Hugo Chávez, a quem parecem detestar somente por ser amigo dos petistas - visto que nunca dedicaram aversão igual aos governantes de direita do continente.
São como os lutadores de boxe que não possuem em seu repertório um soco capaz nocautear o adversário. Lembram os pesos-moscas enfezados do Oriente, que brigam desferindo a esmo diretos, cruzados, jabs e uppercuts - além de, vez por outra, golpes baixos.
Funciona?
Até agora, pode-se dizer que não. Apesar do coro negativista, as pessoas comuns continuam satisfeitas com o País e o governo, e esperançosas em relação ao futuro.
Em recente pesquisa da Vox Populi, 68% dos entrevistados disseram esperar que a situação de suas famílias venha a melhorar nos próximos seis meses, contra 2% que temem que piore. E o mais provável é que os otimistas é que tenham razão.
Esta semana, outro patético esforço de mobilizar os “indignados” conseguiu colocar dez cidadãos na Avenida Paulista. Portavam cartazes pedindo “Basta!”. Ficaram falando sozinhos.
Uma coisa é conseguir a adesão de meia dúzia de ministros do Supremo, a maioria já alinhada com a oposição. Outra é encher as ruas. Isso, ela nunca soube fazer. E não consegue aprender.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O segredo do sucesso



Da Agência Carta Maior

10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil
Emir Sader


Em primeiro de janeiro de 2013, se cumpriram 10 anos desde a posse do governo Lula, que teve continuidade na sua reeleição em 2006 e na eleição da Dilma em 2010. Dessa maneira se completa uma década de governos que buscam superar os modelos centrados no mercado, no Estado mínimo nas relações externas prioritariamente voltadas para os Estados Unidos e os países do centro do sistema.

São governos que, para superar a pesada herança econômica, social e política recebida, priorizam, ao contrário, um modelo de desenvolvimento intrinsecamente articulado com políticas sociais redistributivas, colocando a ênfase nos direitos sociais e não nos mecanismos de mercado. Buscam o resgate do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais de todos. Colocam em prática políticas externas que dirigem seu centro para os processos de integração regional e os intercâmbios Sul-Sul e não para Tratados de Livres Comércio com os EUA.

Os resultados são evidentes. O Brasil, marcado por ser o país mais desigual do continente mais desigual do mundo, vive, pela primeira vez com a intensidade e extensão atuais, profundos processos de combate à pobreza, à miséria e à desigualdade, que já lograram transformar de maneira significativa a estrutura social do país, promovendo formas maciças de ascensão econômica e social, com acesso a direitos fundamentais, de dezenas de milhões de brasileiros.

Dotando o Estado brasileiro de capacidade de ação, estamos podendo reagir aos efeitos recessivos da mais forte crise econômica internacional das ultimas oito décadas, mantendo – mesmo se diminuído – o crescimento da economia e estendendo, mesmo em situações econômicas adversas, as políticas sociais redistributivas.

Por outro lado, políticas externas soberanas projetaram o Brasil como uma das lideranças emergentes em um mundo em crise de hegemonia, com iniciativas coletivas e solidárias, com propostas que apontam para um mundo multipolar, centrado em resoluções políticas pacíficas dos focos de conflitos e em formas de cooperação solidária para o desenvolvimento das regiões mais atrasadas.

No entanto, esses governos recebem uma pesada herança de um passado recente de enormes retrocessos de todo tipo. O Brasil – assim como a América Latina – passou pela crise da dívida, que encerrou o mais longo ciclo de crescimento econômico da nossa história, iniciado nos anos 1930 com a reação à crise de 1929. Sofreu os efeitos da ditadura militar, de mais de duas décadas, que quebrou a capacidade de resistência do movimento popular, preparando as condições para o outro fenômeno regressivo. Os governos neoliberais, de mais de uma década – de Collor a FHC – completaram esse processo regressivo do ponto de vista econômico, social e ideológico.

Assim, Lula não retoma o processo de desenvolvimento econômico e social onde ele havia sido estancado, mas recebe uma herança que inclui não apenas uma profunda e prolongada recessão, mas um Estado desarticulado, uma economia penetrada pelo capital estrangeiro, um mercado interno escancarado para o mercado internacional, uma sociedade fragmentada, com a maior parte dos trabalhadores sem contrato de trabalho. 

O segredo do sucesso do governo Lula, seguido pelo de Dilma, está na ruptura em três aspectos essenciais do modelo neoliberal:

- a prioridade das políticas sociais e não do ajuste fiscal, mantido em funções dessas políticas

- a prioridade dos processos de integração regional e das alianças Sul-Sul e não de Tratado de Livre Comércio com os EUA

- a retomada do papel do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais, deslocando a centralidade do mercado pregada e praticada pelo neoliberalismo.

Essas características constituem o eixo do modelo posneoliberal – comum a todos os governos progressistas latino-americanos -, que faz do continente um caso particular de única região do mundo que apresenta um conjunto de governos que pretendem superar o neoliberalismo e que desenvolvem projetos de integração regional autônomos em relação aos EUA.

Foi uma década essencial no Brasil, não apenas pelas transformações essenciais que o país sofreu, mas também porque ela reverteu tendências históricas, especialmente à desigualdade, que tinham feito do Brasil o país mais desigual do continente mais desigual do mundo.

A década merece uma reflexão profunda e sistemática, que parta da herança recebida, analise os avanços realizados e projete as perspectivas, os problemas e o futuro do Brasil nesta década. Um livro com textos de 21 dos melhores pensadores da esquerda, que está sendo organizado por mim, deve ser lançado num seminário geral por volta de abril e, a partir desse momento, fazer várias dezenas de lançamentos e debates por todo o ano. 

O projeto pretende promover discussões estratégicas sobre o Brasil, elevando a reflexão sobre os problemas que enfrentamos e projetando o futuro da construção de uma alternativa ao neoliberalismo.


Transcendência

Do adital.com

Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor

Adital

Desde que Howard Gardner demonstrou que a inteligência humana é muito diversificada e fez o mapa das "múltiplas inteligências”, as pessoas descobriram a importância da "inteligência emocional”. Até hoje, o livro de Daniel Goleman faz sucesso em muitos países. O que talvez seja mais novo e agora nesse inicio de 2013 mereça especialmente nossa atenção é o que tem sido chamado, em muitos círculos, de inteligência espiritual, ou transcendente. O psiquiatra Robert Cloninger, estranho ao mundo religioso, prefere denomina-la: "capacidade de autotranscendência”. Victor Frankl, criador da logoterapia existencial, afirma que a autotranscendência dá ao ser humano a possibilidade de superar barreiras e a buscar o que está oculto para além dos limites do seu conhecimento. A autotranscendência pode levar a pessoa a superar a si mesma de forma inesperada e surpreendente. Isso foi demonstrado por prisioneiros de várias tradições espirituais e mesmo ateus, nos campos de concentração do nazismo e das ditaduras militares latino-americanas. Essa inteligência espiritual pode unir-se a uma dimensão de fé e de pertença religiosa, mas é, sobretudo, um elemento antropológico. É a capacidade do ser humano ser livre e transcender os limites, sejam biológicos, sejam intelectuais para viver uma relação de identidade profunda consigo mesmo, ou seja, com sua essência mais íntima, com o outro, visto como mistério e sujeito de amor e com todo o cosmos. É a inteligência espiritual que nos faz viver o anseio por uma vida plena. A busca de sentido é uma característica humana. Uma criança de três ou quatro anos, mal aprende a falar, já pergunta, dia e noite às pessoas com as quais convive, o porquê de tudo e de cada coisa. Por quê? Por quê? Por quê?

A inteligência espiritual organiza as respostas possíveis sobre o sentido da vida e os mistérios das coisas. Quando se supera o nível das aparências e se busca as raízes mais profundas tem inicio a vida espiritual inteligente. Ela leva a pessoa a se maravilhar e encontrar beleza e sentido nas pequenas coisas do dia a dia, a ser capaz de gratidão, a desenvolver a gentileza e a delicadeza com os outros e consigo. No caso de uma opção de fé, a pessoa sente-se em comunhão com a comunidade dispersa de todas as pessoas que fazem de sua busca interior um caminho de vida. Muitas pessoas e grupos organizam essa busca na convivência interior e comunitária com esse mistério último, presente misteriosamente no mais profundo do seu ser, no mais íntimo das outras pessoas e no coração do universo. Esse mistério de amor está em nós, como algo que, como disse Santo Agostinho, é mais íntimo a mim do que eu mesmo. As religiões o chamam de Deus. Está em cada um de nós, mas não é apenas uma dimensão do nosso próprio ser e de alguma forma nos transcende. Por isso, cada pessoa o encontra no outro e no amor solidário que nos compromete com a libertação integral de toda humanidade e de cada ser humano em sua integridade. É isso que as tradições espirituais mais antigas ensinam e, segundo a fé cristã, Jesus Cristo veio nos revelar e nos ensinar a viver profundamente mergulhados nele.

Não é fácil viver esse caminho de aprofundamento interior e de desenvolvimento da inteligência espiritual em uma sociedade que banaliza tudo e vende a dispersão como supérfluo para nos acomodar e nos distrair da busca mais profunda que nos alimenta a paixão pela vida e a compaixão. Por outro lado, ao nos apoiar uns aos outros nesse caminho, descobrimos que a inteligência espiritual não é somente íntima e subjetiva, mas tem uma dimensão social e comunitária. E ela nos abre à fé e ao reconhecimento da presença de Deus. Jesus afirmou: "Onde duas ou três pessoas estão reunidas no meu nome, eu estou no meio delas” (Mt 18, 20).