quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Lula, a emoção na posse dos novos ministros.

Via Portal Nassif

Lula na posse dos novos ministros

Dilma empossa ministros, Lula rouba a cena em cerimônia
Cerimônia de posse do novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Em uma concorrida cerimônia nesta terça-feira (24), a presidente Dilma Rousseff deu posse aos novos ministros da Educação e Ciência e Tecnologia, em evento onde a grande estrela foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se submete a um tratamento contra um câncer na laringe.
Lula desceu a rampa do palácio amparado por Dilma, e sob o coro de "olê, olê, olê, olá, Lula". Sentou-se ao lado da presidente no palanque e, ao tirar o chapéu que passou a usar em seu tratamento contra o câncer, foi longamente aplaudido de pé. O ex-presidente, no entanto, não falou na cerimônia.
Na cerimônia, em que Aloizio Mercadante assumiu o Ministério da Educação no lugar de Fernando Haddad e Marco Antônio Raupp assumiu a Ciência e Tecnologia no lugar de Mercadante, Dilma iniciou seu discurso com uma "saudação especial" ao seu antecessor, a quem chamou de "inesquecível".
"Eu tenho certeza que para vocês, também para mim, é uma honra que seja nesse momento que o nosso querido presidente Lula volta ao Palácio do Planalto pela primeira vez", disse.
Esta foi a primeira cerimônia oficial da qual Lula participou no Palácio do Planalto desde que deixou a Presidência, no início de 2011. No ano passado, ele esteve de volta para acompanhar o velório do seu ex-vice, José Alencar, morto após uma longa batalha contra o câncer.
A troca de ministros, gerada pela saída de Haddad para disputar a eleição municipal em São Paulo, é o início da primeira reforma ministerial de Dilma, que deve indicar outros nomes para pastas cujos titulares são interinos ou disputarão o pleito de outubro.
A candidatura de Haddad foi lançada por Lula e o ex-presidente se empenhou em negociações que afastaram a realização de prévias no PT para definir o candidato da legenda.
Estilo Dilma
Dilma fez novamente uma forte defesa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma das principais bandeiras da gestão Haddad e que sofreu diversos problemas nos últimos anos, como erros nas correções e vazamento de questões.
"Há que se reconhecer que para um processo que abrange milhões de pessoas é inevitável que nos primeiros tempos você tenha alguns desvios. E esses desvios nós temos humildade de reconhecer e corrigir", disse.
Mercadante ressaltou a importância de projetos na pasta que deixa, mas arrancou risos ao dar conselhos ao seu sucessor em relação ao estilo de Dilma, conhecida por sua postura dura em despachos com ministros. "Toda vez que você levar um projeto, um programa, a primeira fase vai ser de espancamento do projeto. O projeto vai ser desconstituído em todas as funções", disse ele ao se dirigir a seu sucessor na Ciência e Tecnologia.
"E, se ele não estiver consistente, você vai ouvir a expressão: ele não fica de pé... Volte para casa, junte a equipe e trabalhe intensamente e volte a apresentar o projeto".
Raupp respondeu ao conselho de Mercadante, ao destacar o que chamou de "eficiência gerencial" de Dilma. "A exigência de otimização, otimização dos recursos, é uma tônica no comportamento dela (Dilma), na atuação dela", disse.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Turismólogos ganham reconhecimento da profissão. Com a Lei 12.591, profissão dá o primeiro passo rumo à regulamentação

Do Portal turismo.gov.br

Turismólogos ganham reconhecimento da profissão


Com a Lei 12.591, profissão dá o primeiro passo rumo à regulamentação

19/01/2012
 
Brasília (DF) - Foi publicada em 19/01/2012, no Diário Oficial, a portaria que reconhece a profissão de turismólogo e disciplina seu exercício. A lei atende a uma antiga reivindicação da categoria, apoiada pelo Ministério do Turismo, em especial pelo ministro do Turismo, Gastão Vieira: “Este é o primeiro passo para que a profissão seja regulamentada. O MTur sempre trabalhou pelo reconhecimento da atividade, o que acontece em boa hora, quando o país está para receber alguns dos mais importantes eventos do mundo, como a Copa e as Olimpíadas”.

E completou Gastão Vieira: “Nosso trabalho não terminou. Continuaremos discutindo junto ao Congresso Nacional e às entidades representativas os requisitos necessários à atividade”.

Depois de dez anos trabalhando pelo reconhecimento da profissão, a Associação Brasileira dos Turismólogos e Profissionais do Turismo também comemora. “A legislação é positiva, porque abre os caminhos para a regulamentação. Reconhecemos que o Ministério do Turismo trabalhou para que a lei fosse ainda mais ampla. Ainda assim, demos um passo importante rumo à consolidação das atividades que operacionalizam o turismo”, explicou a presidente da associação, Tania Omena.

A Lei 12.591, de 18 de janeiro de 2012, considera atividades do turismólogo: planejar, organizar, dirigir, controlar, gerir e operacionalizar instituições e estabelecimentos ligados ao turismo; coordenar e orientar trabalhos de seleção e classificação de locais e áreas de interesse turístico, visando ao adequado aproveitamento dos recursos naturais e culturais, de acordo com sua natureza geográfica, histórica, artística e cultural, bem como realizar estudos de viabilidade econômica ou técnica; coordenar e orientar levantamentos, estudos e pesquisas relativamente a instituições, empresas e estabelecimentos privados que atendam ao setor turístico; entre outras.

“O ministro Gastão Vieira tem uma visão de futuro, levando em conta as necessidades de um país que se afirma como importante destino no cenário turístico internacional”, concluiu a presidente da Associação Brasileira dos Turismólogos e Profissionais do Turismo.

ASCOM

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domingo, 15 de janeiro de 2012

"Na sobreposição entre medicina da necessidade e medicina do desejo, a mesma prótese que repara mamas mutiladas pelo câncer se transformou em cobiçada e lucrativa mercadoria"

Via Conteúdo Livre

Duplicidade estética - Debora Diniz


Na sobreposição entre medicina da necessidade e medicina do desejo, a mesma prótese que repara mamas mutiladas pelo câncer se transformou em cobiçada e lucrativa mercadoria

Benoit Tessier/Reuters 
Troca. Duas marcas de próteses foram proibidas no Brasil 

Mas uma duplicidade acompanhou a estética das mamas como um ato médico de proteção às necessidades. Não me interessa aqui explorar a origem dessa história, mas a sobreposição entre medicina da necessidade e medicina do desejo. A mesma prótese mamária rapidamente se transformou em uma cobiçada e lucrativa mercadoria. Em tempos de Big Brother Brasil, os seios turbinados pelas próteses são um sinal de pertencimento a um grupo imaginário de mulheres que se define pelos limites do corpo. Entre bisturis e academias, as moças do BBB medem seus seios pelos mililitros de silicone implantados para concorrer ao programa. O implante de silicone mamário é um objeto de desejo de diferentes mulheres: aquelas que amamentaram seus bebês e cujos seios cederam à força da gravidade; aquelas que jamais puderam comprar um sutiã Victoria's Secret senão com os dispositivos antigravidade push up; ou simplesmente aquelas já socializadas nos novos signos sexuais do feminino, em que a revolução do volume faz parte da cultura brasileira. A verdade é que essa foi uma revolução recente: a medicina do desejo e a globalização da estética corporal da mulher americana instauraram a prótese de silicone entre nós como um novo monumento da geografia física feminina.

As próteses francesas vazantes foram um ruído incômodo que provocou a duplicidade da medicina da necessidade e do desejo no campo da estética. Às mulheres que implantaram as próteses francesas amaldiçoadas pelo rompimento, o SUS afirma que vai substituí-las por entender que se trata de um efeito imprevisível da tecnologia médica. Substituir a prótese exige uma nova cirurgia em um momento da vida em que, talvez, os seios turbinados não tenham mais a motivação de quem busca concorrer a um programa de televisão. A rotina de cuidados para qualquer mulher que tenha implantado silicone nos seios é de retorno à revisão médica a cada dez anos. Desconheço estudos que acompanhem os dois grupos de mulheres - as implantadas por necessidade e as implantadas por desejo - no cumprimento da vistoria. Arriscaria dizer que as mulheres siliconadas para se enquadrarem no novo regime corporal do volume são as menos leais à revisão médica periódica.

"Há riscos em qualquer procedimento médico." Essa é uma sentença que todas as mulheres que implantaram as próteses de silicone ouviram de seus médicos. Àquelas em recuperação de um câncer mutilador, o risco é parte de um itinerário terapêutico de dor, luto e sobrevivência. Há mulheres que recusam a cirurgia reparadora por entendê-la como mais um procedimento invasivo em um corpo cansado pela doença. A maioria opta pelo implante do silicone mamário como um sinal do retorno à normalidade.

Muito diferentes são as mulheres que, voluntariamente, se adequaram à nova ordem estética dos volumes. Imagino que o sentido do risco pelas próteses vazantes seja também distinto para esses dois grupos de mulheres. Aos médicos, caberá cuidar de cada uma delas com diferentes sensibilidades. Mencionar um novo risco de câncer à mulher pós-mutilada e reparada em razão de um tumor já vivido deve ser aterrorizante. Já para a mulher que comprou uma mercadoria, deve ser um contrassenso sua proximidade à realidade daquelas que compuseram a antiestética de seu desejo: as mulheres mutiladas das campanhas do câncer são agora seu duplo pelo medo das próteses vazantes.

* DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA, PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, PESQUISADORA DA ANIS - INSTITUTO DE BIOÉTICA, DIREITOS HUMANOS, GÊNERO

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A segunda natureza

Do Portal Adital
‘Só um Deus nos poderá salvar' 
 
Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital


Esta frase não vem de algum Papa mas de Martin Heidegger (1889-1976), um dos mais profundos filósofos alemães do século XX, num entrevista dada ao semanário Der Spiegel no dia 23 de setembro de 1966 mas somente publicada no dia 31 de maio de 1976, uma semana após a sua morte. Heidegger sempre foi um observador atento dos destinos amedrontadores de nossa civilização tecnológica. Para ele a tecnologia como intervenção na dinâmica natural do mundo para benefício humano, penetrou de tal maneira em nosso modo de ser que se transformou numa segunda natureza.

Hoje em dia não podemos nos imaginar sem o vasto aparato tecnocientífico sobre o qual está assentada nossa civilização. Mas ela é dominada por uma compulsão oportunística que se traduz pela fórmula: se podemos fazer, também nos é permitido fazer sem qualquer outra consideração ética. As armas de destruição em massa surgiram desta atitude. Se existem, por que não usá-las?

Para o filósofo, uma técnica assim sem consciência, é a mais lídima expressão de nosso paradigma e de nossa mentalidade, nascidos nos primórdios da modernidade, no século XVI, cujas raízes, no entanto, se encontram já na clássica metafísica grega. Esta mentalidade se orienta pela exploração, pelo cálculo, pela mecanização e pela eficiência aplicada em todos os âmbitos, mas principalmente em relação para com a natureza. Essa compreensão entrou em nós de tal maneira que reputamos a tecnologia como a panacéia para todos os nossos problemas. Inconscientemente nos definimos contra a natureza que deve ser dominada e explorada. Nós mesmos nos fizemos objeto de ciência, a ser manipulados, nossos órgãos e até nossos genes.

Criou-se um divórcio entre ser humano e natureza que se revela pela crescente degradação ambiental e social. A manutenção e a aceleração deste processo tecnológico, segundo ele, pode nos levar a uma eventual autodestruição. A máquina de morte já está há decênios construída.

Para sair desta situação não são suficientes apelos éticos e religiosos, muito menos a simples boa-vontade. Trata-se de um problema metafísico, quer dizer, de um modo de ver e de pensar a realidade. Colocamo-nos num trem que corre célere sobre dois trilhos e não temos como pará-lo. E ele está indo ao encontro de um abismo lá na frente. Que fazer? Eis a questão.

Se quiséssemos, teríamos em nossa tradição cultural, uma outra mentalidade, nos presocráticos como Heráclito entre outros, que ainda viam a conexão orgânica entre ser humano e natureza, entre o divino e o terreno e alimentavam um sentido de pertença a um Todo maior. O saber não estava a serviço do poder, mas da vida e da contemplação do mistério do ser. Ou em toda a reflexão contemporânea sobre o novo paradigma cosmológico-ecológico que vê a unidade e a complexidade do único e grande processo da evolução do qual todos os seres são emergências e interdependentes. Mas esse caminho nos é vedado pelo excesso de tecnociência, de racionalidade calculatória e pelos imensos interesses econômicos das grandes corporações que vivem deste status quo.

Para onde vamos? É neste contexto indagações que Heidegger pronunciou a famosa e profética sentença: "A filosofia não poderá realizar diretamente nenhuma mudança da atual situação do mundo. Isso vale não apenas para a filosofia mas principalmente para toda a atividade de pensamento humano. Somente um Deus nos pode salvar (Nur noch ein Gott kann uns retten). Para nós resta a única possibilidade no campo do pensamento e da poesia que é preparar uma disposição para o aparecimento de Deus ou para a ausência de Deus em tempo de ocaso (Untergrund); pois, nós, em face do Deus ausente, vamos desaparecer”.

O que Heidegger afirma está sendo também gritado por notáveis pensadores, cientistas e ecólogos. Ou mudamos de rumo ou a nossa civilização põe em risco o seu futuro. A nossa atitude é de abertura a um advento de Deus, aquela Energia poderosa e amorosa que sustenta cada ser e o inteiro universo. Ele nos poderá salvar. Essa atitude é bem representada pela gratuidade da poesia e do livre pensar. Como Deus, segundo as Escrituras, é "o soberano amante da vida”(Sabedoria 11,24), esperamos que não permitirá um fim trágico para o ser humano. Este existe para brilhar, conviver e ser feliz.

[Veja do autor o livro Proteger a Terra-Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio de Janeiro 2010].

sábado, 7 de janeiro de 2012

"A democracia brasileira merece os parabéns por conseguir sobreviver nessa corda bamba"


Colunistas|| Copyleft
DEBATE ABERTO

Sistema político é ruim, mas a história é inexorável

As regras continuam as mesmas – e em algum momento o Brasil vai ter que se decidir entre duas que são incompatíveis: um sistema de votação presidencial que fortalece popularmente o presidente eleito em dois turnos (ou já consagrado majoritariamente num primeiro) ou um sistema de votação parlamentar que tende a pulverizar cada vez mais o voto.

Nem tudo é igual no país de Macunaíma. Até o ano passado, o Brasil convivia com uma realidade meio torta, segundo a qual um presidente eleito pelo voto direito em dois turnos (portanto, com exigência de maioria absoluta dos votos válidos), governava sob um sistema partidário extremamente pulverizado que impedia a formação de uma maioria monopartidária, ou uma coalizão menos volumosa. 

As regras continuam as mesmas – e em algum momento o Brasil vai ter que se decidir entre duas que são incompatíveis: um sistema de votação presidencial que fortalece popularmente o presidente eleito em dois turnos (ou já consagrado majoritariamente num primeiro) ou um sistema de votação parlamentar que tende a pulverizar cada vez mais o voto, e que está longe de fortalecer as instituições partidárias. Quando mais o voto é pulverizado, maior o número de partidos para compor um governo de coalizão. 

De certa forma, a democracia brasileira merece os parabéns por conseguir sobreviver nessa corda bamba, com as crises que fatalmente irrompem de leis que fortalecem popularmente um presidente, mas dão, simultaneamente, um poder enorme de barganha aos partidos, mesmo aos muito pequenos.

A distorção, todavia, vem sendo empurrada com a barriga desde a Constituinte de 1988, quando, votadas em separado, as propostas deram ao sistema partidário um perfil parlamentarista, enquanto o presidencialismo vencia e levava para casa um modelito dois números menor que o seu corpanzil. Ainda assim, como a história anda, independente de quanto aperta a roupa, a chamada correlação de forças (termo que minha geração, e também a anterior, usou à farta para explicar por que num momento as coisas fatalmente mudam, mesmo com tanques nas ruas) prevalece sobre as consequências previstas para um determinado sistema político.

Na prática, a pulverização partidária, aliada às práticas tradicionais de fazer política, resultam em enorme poder de barganha dos partidos frente a um Executivo. Mas, como as variantes conjunturais nunca são as mesmas, nem sempre isso acontece. Até pela contradição entre partido forte frente ao Executivo e desacreditado junto ao eleitorado, e entre Executivo forte junto ao eleitorado e refém de um Congresso pulverizado, coisas ocorrem – e podem ser suficientemente fortes a ponto de balançar a lógica desse sistema maluco. 

Nos governos de Fernando Henrique Cardoso, existia uma maioria parlamentar onde, embora com as restrições conferidas pela lei, o ambiente ideológico, inclusive internacional, era propício à formação de maiorias (que permitiram, por exemplo, a venda de enorme patrimônio público sem qualquer tipo de vantagem para o Estado, como descreve Amaury Ribeiro Jr. no livro que é sucesso de vendas, “A Privataria Tucana”). As maiorias eram mais orgânicas, digamos assim, porque a maioria dos partidos do centro à direita embarcaram na onda neoliberal; e porque nesse processo foram escolhidos, a dedo, aqueles que viriam a se constituir na “burguesia moderna”, capaz de conviver de forma proveitosa com o capital monopolista financeiro. 

Estar no círculo de poder era definitivo. Nossa elite mudou de cara nesse período, sem grande espaço para oposição, que exercia o direito de espernear, apenas. Além das variáveis ideológicas, a “democratização” de recursos junto às “bases tradicionais” viabilizaram um projeto de poder (que era para ser de 20 anos de poder tucano-pefelista e tornou-se oito, mais por conta da conjuntura econômica do que da ação de uma oposição que apenas saiu do atordoamento da queda do Muro de Berlim depois que foi obrigada a governar).

Nos dois governos Lula, as distorções do sistema se acentuariam. No primeiro, o presidente era um homem limitado em suas possibilidades pelo perfil do governo de coalizão, por uma crise financeira que foi uma herança pesada e por uma relação com parceiros no Congresso que, na falta de qualquer afinidade orgânica, passava mesmo pelas relações de troca da política tradicional. 

A partir do segundo, era um presidente consagrado popularmente, e sob cujo governo as condições objetivas da maior parte da população melhorou – e com partidos de oposição cada vez mais enfraquecidos pelo modelo político arcaico em que, quanto mais longe do poder, menos chances uma legenda tem de eleger representantes. O que sobreviveu de oposição valeu-se da força de mediação da mídia tradicional, que teve um importante papel no pleito de 2006, do lado da trincheira do PSDB representada por José Serra, que perdeu para a candidata de Lula, a presidenta Dilma Rousseff. 

O empréstimo de credibilidade da imprensa à candidatura Serra, evidentemente, não foi suficiente para fazê-lo vitorioso, mas estabeleceu um vínculo profundo entre o maior partido de oposição e a mídia tradicional. A perda de credibilidade que resultou dessa relação carnal entre um e outra (mídia e PSDB) atingiu parte de público leitor e tornou cada vez mais reduzidas condições de ampliação de sua influência na opinião pública. Manteve um público leitor fiel, mas partidarizado. Perdeu público que representava a outra parte da polaridade política que, apesar de todas as deficiências do quadro partidário, se consolida numa espécie de Fla-Flu na sociedade.

O poder de persuasão desse tipo de jornalismo, no entanto, é eficiente para os mesmos. O público não se amplia. Da mesma forma que, na internet, a tendência é uma conversa com o lado oposto.

O segundo ano do governo Dilma Rousseff começa com algumas mudanças de parâmetro. Ela não foi ruim na política quanto apostavam seus opositores e temiam seus adeptos – aliás, parece que a presidenta deu um passo além daquele dado por Lula, a partir de 2005, quando estourou o chamado Escândalo do Mensalão. Na época, até porque em véspera de eleição, o grande enfraquecido foi o PT. Embora os outros partidos da base tenham ficado tão expostos quanto o partido, foi o de Lula que sofreu mais. Lula surfou, com sua popularidade, no vácuo deixado pelo partido. Fortaleceu-se como figura política, mas preservou os demais da coalizão. E, embora tenha tirado de letra a oposição sistemática feita pelos meios de comunicação, esteve no meio de uma guerra constante.

Dilma demitiu ministros por pressão dos jornais. No momento em que anuncia uma reforma ministerial, a maioria dos partidos da coalizão foram alvejados por denúncias. Ela está mais forte que os partidos que a apoiam. E, ironia das ironias, a exposição do vínculo carnal da imprensa com o PSDB, em especial com o grupo de Serra, configurada no “Privataria Tucana”, enfraquece também a mídia nesse momento – aquela que, teoricamente, foi a vitoriosa na batalha de derrubar ministros. No mínimo, nesse processo, a mídia mostrou que tem apenas um lado. Um dos diários nacionais, aliás, cometeu um vanguardismo jornalístico: estabeleceu a norma de ouvir o lado acusado sem mencionar as acusações contidas num livro que, aliás, não foi objeto anterior de sua curiosidade jornalística.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

Página/12: pauladas em Cristina para acertar a Dilma

Do Página/12, via Portal Nassif

A entrevista de PHA ao Página/12

Do Página/12Na Carta Maior 

“Atiram em Cristina para acertar Dilma”

Darío Pignotti

Cristina y Dilma, en la mira de los PIG, según un reconocido periodista
“Conheço a maquinaria da Globo por dentro, vi ela funcionar quando fui editor e depois correspondente em Nova York, entre 1985 e 1996, sei como orquestraram uma campanha para destruir a reputação de Lula nas eleições de 1989. As campanhas sujas contra governantes que provocam algum incômodo são habituais aqui e, ressalvadas as distâncias, se repetem agora contra Cristina. Isso que digo sobre a Globo alcança também outros meios de comunicação aos quais passei a chamar Partido da Imprensa Golpista (PIG)”, assinala o jornalista. “O PIG se horroriza com o que acontece na Argentina, diz que é o exemplo que não deve ser seguido; imagine se Dilma resolvesse fazer o que fez Cristina, a colocariam diante de um pelotão de fuzilamento...Por isso aparecem editoriais dizendo que há uma ‘democradura’ na Argentina. Um absurdo...em matéria de comunicações, o Brasil é uma ditadura perfeita”.
A entrevista de Amorim ao Página/12 iniciou há dois meses no aeroporto de Porto Alegre, onde um grupo de senhoras o observava insistentemente, até que uma delas se aproximou de mim para perguntar: “É o Amorim, da televisão?” O diálogo foi retomado na semana passada por telefone, desde São Paulo, onde ele trabalha como um dos âncoras da Rede Record, a única que disputa em alguns horários a liderança ainda incontestável da Globo.
Uma espécie de movimento de “indignados” contra o bloco midiático dominante começa a se observar no Brasil, processo vigoroso, mas que ainda permanece nas bordas do sistema, dado que ainda não conseguiu colocar o pé na televisão nem conta com o apoio de um jornal de alcance nacional. Encabeçando essa guerrilha informativa, há centenas de blogueiros e sites independentes como Carta Maior, Vermelho, Opera Mundi, Brasil Atual, identificados com uma bandeira comum: a aprovação de uma nova legislação para a regulação dos meios de comunicação.
Nas últimas semanas de seu governo, Lula deu a benção ao movimento insurrecional concedendo-lhe uma entrevista no Palácio do Planalto e elaborando um esboço para esse projeto de legislação, herdado por Dilma Rousseff.
Paulo Henrique Amorim está entre os poucos, ou pouquíssimos, âncoras televisivos de grande audiência alinhado com as reivindicações da imprensa genericamente chamada de “alternativa”. Por isso, suas intervenções sarcásticas acabam sendo particularmente incômodas para os herdeiros de Roberto Marinho, patriarca do grupo Globo, falecido em 2003.
“O Brasil precisa despertar, e creio que está despertando. A Globo é poderosa, mas já não é mais tanto quanto foi. A Globo quis, mas não conseguiu impedir que Lula fosse eleito e reeleito, quis e não pode impedir que Dilma fosse eleita. A família Marinho é uma ameaça à democracia”.
Uma hipotética lei de comunicação deveria acabar com o modelo “monopolista onde a família Marinho abusa da propriedade cruzada de meios de comunicação para asfixiar a competição; no Rio de Janeiro, são donos de tudo, até do Cristo Redentor, a fundação Marinho limpou a estátua do Cristo Redentor, e o próximo passo é se adonarem da Copa do Mundo de 2014”. O método do maior grupo midiático da América Latina, sustenta Amorim, pode ser sintetizada em uma linha: “Proscrever todo debate com um mínimo interesse na mudança”.
“Se dependesse da família marinho, se interromperiam os movimentos de rotação e translação da Terra, eles não querem mudar nada”, reforça. Seguindo a lógica de um partido político, a “Globo atuou como oposição golpista contra Lula e atrasa mesmo as transições mais modestas em um país como o nosso, onde nunca caminhamos na direção de mudanças com grande velocidade”.
“O Brasil foi o último país a liberar os escravos (no final do século XIX) e para que ninguém se sentisse ameaçado queimaram os arquivos; um século depois veio a transição para a democracia, uma transição porca, porque em 1985 assumiu a presidência um colaborador dos militares, José Sarney. E seguimos esperando a transição completa porque até hoje se obstrui toda investigação sobre a ditadura”.
No dia 18 de novembro, Dilma Rousseff promulgou a Comissão da Verdade, atribuindo a ela poderes para averiguar e examinar os delitos perpetrados durante a ditadura. O lobby militar e o “boicote” do grupo Globo serão, aponta Amorim, dois fatores de poder que oporão “total resistência” a uma comissão que, segundo a lei, só procurará levantar os responsáveis por assassinatos, desaparecimentos e torturas, mas não encaminhará o julgamento de ninguém. “Se a Comissão avançar, inevitavelmente virá a público a cumplicidade da Globo com a ditadura, por isso eles vão combatê-la ou ocultá-la. A Globo foi muito mais porta-voz, foi um dos grupos mais beneficiados pelos militares, que deram a ela uma rede nacional de micro-ondas, tornando possível que se tornasse o gigante que é hoje”.
Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 1 de janeiro de 2012

Não somos o centro de tudo

Do Portal Adital
O dia do juízo sobre nossa cultura?

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital

O final do ano oferece a ocasião para um balanço sobre a nossa situação humana neste planeta. O que podemos esperar e que rumo tomará a história? São perguntas preocupantes pois os cenários globais apresentam-se sombrios. Estourou uma crise de magnitude estrutural no coração do sistema econômico-social dominante (Europa e USA), com reflexos sobre o resto do mundo. A Bíblia tem uma categoria recorrente na tradição profética: o dia do juízo se avizinha. É o dia da revelação: a verdade vem à tona e nossos erros e pecados são denunciados como inimigos da vida. Grandes historiadores como Toynbee e von Ranke falam também do juízo sobre inteiras culturas. Estimo que, de fato, estamos face a um juízo global sobre nossa forma de viver na Terra e sobre o tipo de relação para com ela.

Considerando a situação num nível mais profundo que vai além das análises econômicas que predominam nos governos, nas empresas, nos foros mundiais e nos meios de comunicação, notamos, com crescente clareza, a contradição existente entre a lógica de nossa cultura moderna, com sua economia política, seu individualismo e consumismo e entre a lógica dos processos naturais de nosso planeta vivo, a Terra. Elas são incompatíveis. A primeira é competitiva, a segunda, cooperativa. A primeira é excludente; a segunda, includente. A primeira coloca o valor principal no indivíduo, a segunda no bem de todos. A primeira dá centralidade à mercadoria, a segunda, à vida em todas as suas formas. Se nada fizermos, esta incompatibilidade pode nos levar a um gravíssimo impasse.

O que agrava esta incompatibilidade são as premissas subjacentes ao nosso processo social: que podemos crescer ilimitadamente, que os recursos são inesgotáveis e que a prosperidade material e individual nos traz a tão ansiada felicidade. Tais premissas são ilusórias: os recursos são limitados e uma Terra finita não agüenta um projeto infinito. A prosperidade e o individualismo não estão trazendo felicidade; mas, altos níveis de solidão, depressão, violência e suicídio.

Há dois problemas que se entrelaçam e que podem turvar nosso futuro: o aquecimento global e a superpopulação humana. O aquecimento global é um código que engloba os impactos que nossa civilização produz na natureza, ameaçando a sustentabilidade da vida e da Terra. A conseqüência é a emissão de bilhões de toneladas/ano de dióxido de carbono e de metano, 23 vezes mais agressivo que o primeiro. Na medida em que se acelera o degelo do solo congelado da tundra siberiana (permafrost), há o risco, nos próximos decênios, de um aquecimento abrupto de 4-5 graus Celsius, devastando grande parte da vida sobre a Terra. O problema do crescimento da população humana faz com que se explorem mais bens e serviços naturais, se gaste mais energia e se lancem na atmosfera mais gases produtores do aquecimento global.

As estratégias para controlar esta situação ameaçadora praticamente são ignoradas pelos governos e pelos tomadores de decisões. Nosso individualismo arraigado tem impedido que nos encontros da ONU sobre o aquecimento global se tenha chegado a algum consenso. Cada pais vê apenas seu interesse e é cego ao interesse coletivo e ao planeta como um todo. E assim vamos, gaiamente, nos acercando de um abismo.

Mas a mãe de todas as distorções referidas é nosso antropocentrismo, a conviccção de que nós, seres humanos, somos o centro de tudo e que as coisas foram feitas só para nós, esquecidos de nossa completa dependência do que está à nossa volta. Aqui radica nossa destrutividade que nos leva a devastar a natureza para satisfazer nossos desejos.

Faz-se urgente um pouco de humildade e vermo-nos em perspectiva. O universo possui 13,7 bilhões de anos; a Terra, 4,45 bilhões; a vida, 3,8 bilhões; a vida humana, 5-7 milhões; e o homo sapiens cerca de 130-140 mil anos. Portanto, nascemos apenas há alguns minutos, fruto de toda a história anterior. E de sapiens estamos nos tornando demens, ameaçadores de nossos companheiros na comunidade de vida. Chegamos no ápice do processo da evolução não para destruir mas para guardar e cuidar este legado sagrado. Só então o dia do juízo será a revelação de nossa verdade e missão aqui na Terra.

FELIZ 2012. PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE A TODOS NÓS!

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